quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O que é????

Eu tenho sofrido uma certa gozação por conta da minha empolgação com as coisas. Aparentemente, eu faço comentários um tanto quanto exaltados que normalmente envolvem algo do tipo: “O que foi essa música?” ou “O que é essa comida?”, acompanhados de mãos para cima e um olhar assim meio...deslumbrado.

Claro que os meus queridos amigos não iriam perder a chance de tirar incansavelmente com a minha cara. Assim, nos últimos tempos a piada mais freqüente quando eu estou por perto tem sido “O que é essa alface?”, “O que é esse guardanapo?” ou coisa do gênero.

Eu olho torto-fingido e gargalho.

Nem confiança para eles. É, para vocês, seus trolhas....rs. Me empolgo mesmo, me deslumbro, babo, compartilho e quando vejo já está dito. O que é isso tudo que a gente experimenta diariamente? Melhor curtir e se deslumbrar do que passar batido, certo?

O próximo post vai ser nessa linha, já aviso. Pina. O que é aquela dança-teatro-whatever? O que era aquela mulher??????

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A De e a Locadora

Não tem jeito, a doideira é mesmo de família. Eu sempre digo que o meu pai é, de longe, a pessoa mais distraída da face e do interior da Terra. Vixe, fácil... Eu e a minha irmã não negamos a raça e estamos ali, no mesmo trilho. Hoje ela veio com uma história assim:

Ela: Ju, eu tinha que devolver A Duquesa então passei na locadora, deixei o filme na caixa de devolução e fui levar a Lara na escola. À noite o Gu me chega e pergunta porque eu não tinha devolvido o filme. – Ué, como assim? Eu devolvi hoje à tarde. – Não De, não devolveu, ele está na sua bolsa. - Vixe.

Eu: - Vixe.

Ela: O que será que eu devolvi?, pensei na hora... Liguei na locadora toda sem graça e – Oi, boa noite, eu fui deixar um DVD hoje na devolução rápida mas vi agora que o filme está aqui, então eu devo ter devolvido a coisa errada... Será que você pode ver para mim por favor? A mulher do outro lado, tentando segurar o riso, responde: - Olha moça, devolveram hoje um boneco do Pinóquio........ Silêncio e.......... Hahahahahahaahahahahaha, muitos risos dos dois lados da linha.

Eu: - Hahahahahahahahahahahahaha

Ela: - Hahahahahahahahahahahahaha

Ela: Aí eu falei: - Não moça, o boneco do Pinóquio não fui eu....hehehe.... Devolveram alguma outra coisa estranha (mas não tanto) por aí? - Ah, tem um DVD de Robôs que não é da loja.... - Isso moça, isso. Fui eu, é meu. Ufa! Até que eu não sou tão estranha né? Já o figura do boneco do Pinóquio....

Uôu.

A doideira é de família mas definitivamente não é só da minha...rs

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Inscrição

“Venha viajar de graça pela Colômbia no novo programa da NatGeo.”

Deixa eu ver qual é a dessa história....Viajar de graça pela Colômbia (na verdade viajar de graça, ponto) não seria ruim, né.

Click.

A ficha de inscrição pulou na minha frente assim, arreganhada, e eu, que não posso ver uma ficha de inscrição, comecei a preencher.

Você isso, você aquilo, qual o seu maior medo, qual a experiência mais mais da sua vida, qual o seu signo, o que você comeu ontem, qual o tecido da sua calcinha, blá, blá, blá.... Trinta e sete milhões de perguntas dissertativas depois aparece um campo onde eu deveria colocar a URL do meu vídeo no youtube.

Caraca, eu não tenho vídeo. Ta, tenho vídeos no youtube mas são vídeos de peças, em cena, interagindo.... Dei uma de migué, deixei vazio e...

Enter.

“Este campo é obrigatório, por favor inclua o link para o seu vídeo.”

Tá, vocês querem um vídeo, eu vou escolher um. Esse não, esse também não, ninguém merece eu com a peruca da Neena... Vai esse aqui mesmo.

Ctrl+C, Ctrl+V.

Mais vinte e duas perguntas sobre as vantagens e desvantagens das mulheres em uma viagem e o meu histórico médico completo e voilá. Inscrição feita com sucesso.

Resolvi então fuçar no regulamento e descobri que o tal do vídeo era, na verdade, a parte principal da inscrição, devendo conter uma apresentação minha falando sobre um punhado de coisas, me descrevendo e tals.

Hahahahahahahahahahahahahaha......hehe.

Imaginem a cara dos caras quando derem de cara com o vídeo que eu mandei:

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ar-te

Pina, orquestra de tango, festival de flamenco, gravação de CD de MPB, aula de dança contemporânea, teatro, workshop de musical, fotografia, ensaio vocal. As minhas semanas são assim, recheadas de estímulos artísticos tão ricos quanto distintos e eu no meio, olhos arregalados e coração remexendo de um lado para o outro do peito.

Arte boa faz isso com a gente. Salve, salve.

Em tudo o que eu trabalho atualmente existe arte, graças a Deus. Arte de múltiplas formas, feita, criada, passada adiante, que nasce e se esparrama à minha volta, pega um pouquinho de cada, um pouquinho de mim e escorre por aí, se refazendo. A arte é foda e não tem outra palavra que possa traduzir isso assim, em letrinhas. Só foda mesmo. E olhe lá.

Não faço idéia de como tanta gente vive sem arte. X. São anos sem ir ao teatro (às vezes uma vida...), sem ler um poema, um bom livro, sem ouvir à música sendo feita ali, ao vivo, nascendo das cordas, do ar, sem prender a respiração com um gesto, um corpo reagindo aos sons, sem enxergar as coisas por outros olhos, sem repensar tudo depois de virar geléia de gente liquefeita por uma apresentação duca.


Ar-te. Tão essencial à vida propriamente dita, entendida como o que vale a pena por aqui, quanto o ar para a mais óbvia e básica vida fisiológica. Preenchamo-nos, pois, de ar-te, aspirando fundo, deixando as células embeberem-se, incharem, tomarem novas formas para depois expirarmos o mesmo ar, então diferente, que em seguida preencherá novas e outras células, outros corpos, cada vez mais vivos, cada vez mais outros, cada vez mais sãos.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Multiétnica


- Andem em silêncio pois está rolando a gravação do CD das etnias.

CD das etnias?


Fui chegando na oca central e as vozes femininas misturadas com o som dos pés ritmados no chão ficou enorme.

Caraca, a gente tem mesmo tudo virado para a lua... Os caras estão gravando o CD das tribos bem na hora que a gente chega...

Eu saquei a minha câmera, entrei na oca e aí, me esquece. Pirei mesmo.

Era índio dançando, índio assistindo, índio dormindo, índio ninando índio miniatura, índio posando para foto, índio rindo. Eles e eu, rindo à toa com aquele presente inesperado. A viagem começou definitivamente duca.

Dançaram, cantaram e tocaram. Várias tribos desse Brasil inteiro, pintadas, paramentadas, cada uma com as suas cores, seus símbolos, seus sons. De comum, a cor da pele, os cabelos lisos e negros, os olhos amendoados e as Havaianas. Como índio gosta de Havaiana, gente. Não se vê unzinho sem as suas legítimas que não deformam e não soltam as tiras.

No dia seguinte acordamos e fomos confraternizar. Coisa de louco aqueles índios todos vestidos de gala, colares, cocares, pulseiras, adereços, cabelo raspado, pele pintada, de cócoras... comendo com garfo e faca. No prato, com garfo, com faca e de Havaianas. Sabe aquela sensação de que algo está muito errado, de que alguma coisa não pertence àquele todo? Pois é.

Perto dali, dentro da oca, em uma fila de escrivaninhas com computadores se lia: “Uso exclusivo dos indígenas”. Pai, mãe, criançinhas, todo mundo de olho nas telas e manejando mouses. Caraca. Os caras nem falam português mas usam a internet...

Eu precisava registrar aquilo. Apontei a câmera e:

“Um real, um real.”

Disseram uma menina e um garoto em português quase ininteligível. Tá, não falam a língua mas usam a internet e sabem cobrar por fotos. Aquele pedido de dinheiro me causou um mal estar, por eles e por mim, me senti intrusa e eles, provavelmente usados.

“Eu não tenho um real aqui. Mas as fotos ficaram lindas, vocês querem ver?”

Caras de ãh?.

Mostrei a câmera, cabecinhas balançaram um sim.

Eles viram, riram para a tela, riram para mim. Pediram mais. Sem dinheiro envolvido, as imagens na telinha seriam a minha retribuição. Eles gostaram. Eu me senti menos intrusa, eles, menos usados e a gente até se divertiu. Rindo nas fotos, eram crianças como todas as outras.

No último dia fomos a uma balada local, casa de forró. Quem chega? Os índios. Uma galera toda vestida para festa. Entrou, fez roda e começou a cantar e a girar batendo os pés. Coisa forte essa, o som diferente daquelas vozes, o ritmo marcado no chão, grave, uma corrente, um redemoinho invisível que arrastou a balada para dentro e quando vi, a balada inteira estava a rodar batendo os pés ao som daquele canto.

Uma passagem. Assim como começou, se desfez e sumiu pela porta da frente, um sambinha invadindo a pista e dispersando o redemoinho, a corrente e os sons.

Doida demais essa experiência com os índios. Pessoas tão diferentes de mim quanto se pode ser. Um bololo de fascínio, receio, curiosidade e, por incrível que pareça, identificação. O redemoinho é humano e universal, afinal.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

?

Restaurante japonês. Self-service. Meu prato cheio de coisas cruas coloridas.

Conversa, muita conversa.

Planos, contas, planos... Algo dentro da minha boca me chamou a atenção.

Huummmm, que delícia isso. O que era isso?

Eu engoli algo divino e não conseguia lembrar o que era. Pode? Pode???? Não. Claro que não. Como é que se engole algo e no segundo seguinte não se lembra do que era o algo? Essa minha distração doida ainda vai me complicar.

Eu estou mutcho louca, gente. Tentei por tudo lembrar o é que estava tão bom, do que era aquele gosto e necas. Fui pegar o segundo prato, olhei o buffet para tentar identificar a coisa boa e necas. Necas. Nunca vou saber o que me causou aquele huuummmm. Aquele huuuummmm está perdido para sempre no meu inconsciente. Uma lembrança boa e única das minhas papilas gustativas, irrepetível, boiando inacessível na minha memória de minhoca junto com milhares de coisas deliciosas que eu fiz e não lembro.

Uma doida varrida, eu.

Amanhã volto a tomar o Ginko Biloba. Diariamente. Menos nos dias em que eu esquecer.

Sovacos Hidratados

Quatro mulheres vestidas de branco conversam animadamente sobre... axilas.

Aparentemente o novo desodorante de uma marca conhecida, além de sua função óbvia, também trata, hidrata, embeleza e de alguma forma alivia... axilas.

Não sei se eu sou um bichinho estranho mas as minhas axilas nunca me incomodaram. Mesmo. Nunca tive qualquer problema em levantar os braços animadamente, dar tchaus demorados, praticar esportes que envolvessem a elevação prolongada dos membros superiores ou em dançar coreografias de Bob Fosse. Minhas axilas nunca estiveram em pauta e jamais senti a necessidade de hidratá-las. Elas sempre foram bonitinhas e, graças aos desodorantes comuns, inodoras.

As quatro mulheres do comercial, por sua vez, pareciam incomodadíssimas com os seus sovaquinhos e pela felicidade com que falavam do novo produto, provavelmente teriam suas vidas divididas entre o antes e o depois do fantástico e inovador lançamento.

Sei não mas parece que o povo não tem mais o que inventar. Tudo já foi feito e pensado e explorado e devidamente vendido em caixinhas chamativas. O jeito agora é empacotar e anunciar animadamente o mesmo de antes, maquiado e cheio de laçinhos pelo triplo do preço.

Tem quem compre, vai saber. Deve ter quem acha que a aparência das axilas é um problema sério e vai sair por aí dando tchau muito mais feliz. Até o próximo lançamento.