quinta-feira, 5 de março de 2009

Padoca

Ontem um amigo meu perdeu o pai.

Assim, de repente. Foi para o hospital na sexta com falta de ar, trataram uma coisa, ele tinha outra e quando descobriram já não dava mais tempo para nada. De madrugada chegou a mensagem no meu celular. Tranqüila, sóbria, assim como ele estava quando cheguei no velório.

Um mundo de gente, aquele cheiro de flor que embrulha o estômago, um calor do centro-oeste e papo de velório all over.

Papo de velório é uma coisa estranhíssima. Ninguém sabe direito o que dizer e acaba revolvendo sobre a imprevisibilidade das coisas e as qualidades do morto, ou fugindo completamente do tema e falando sobre o tempo, a novela ou a situação da bolsa de Tóquio.

O meu amigo é daqueles caras que está sempre de boa e topa todas com um sorrisão na cara. Ele já fez de tudo por nós, já salvou a gente de cada enrascada e está sempre por perto em boas e más situações. Ontem que a gente devia cuidar dele, enxugar as lágrimas, dar o ombro, ele não deixou. Segurou a onda mesmo, inteiro, e voltou para casa amparando a mãe.

A imprevisibilidade das coisas é absolutamente assustadora, velórios nos jogam isso na cara sem a menor cerimônia. Sobre as qualidades do pai eu não posso falar, pois não conhecia, mas que deve ter sido um cara porreta por ter criado alguém tão do bem como o meu amigo, ah isso deve. Sobre o tempo, a novela e a bolsa de Tóquio eu não vou falar nada. Os velórios nos mostram que isso tudo não tem mesmo a menor importância.

Um comentário:

figbatera disse...

Ao final, vc disse tudo; "na mosca".