sábado, 30 de agosto de 2008

A queda e os três reais

Gente, gente, gente. Eu preciso comentar aqui duas notícias absolutamente estapafúrdias que apareceram na mídia esses dias.

A primeira delas é a do bebê de um ano e meio que caiu do terceiro andar de um prédio no Recife terça-feira. Discussões sobre negligência doméstica à parte, fantástica a história da queda em si.

Vejam só a trajetória absurdamente improvável da descida: bebê pula (!) do apartamento e desce em queda livre até uma janela basculante que estava aberta na medida certa para desviar a sua direção (!); descendo na diagonal, bebê bate em um guarda-chuva aberto e preso na janela do andar de baixo (!) que serve de trampolim e joga a criança em direção ao muro; chegando ao muro, bebê fica preso pela fralda descartável nas ferragens pontiagudas da grade de segurança do prédio (!); fralda cede lentamente e, por fim, bebê chega ao chão com a queda amortecida o suficiente para lhe causar apenas alguns ferimentos (!); bebê é internado, passa bem, está brincando e viverá feliz para sempre, até Deus sabe quando.

Fala sério. Fiquei besta com a história. Agora me diz se é tudo mera coincidência ou se o anjinho da guarda do pimpolho não teve que improvisar com o que tinha em mãos? Coisa maluca de desenho do Tom e Jerry.

A segunda notícia, que não tem nada a ver com a primeira mas é tão esdrúxula quanto, me fez rir que nem uma retardada dentro do carro ouvindo a CBN. Trata-se de uma dupla fantástica de ladrões que foram presos na Paraíba por falsificarem dinheiro. Até aí, normal. A questão é que os espertissíssimos estavam falsificando notas de 3 reais. TRÊS REAIS! Eita orelha avantajada. Até imagino a conversa das sumidades:

Aí mano, vamo fazê nota pequena porque as grande é mais difícil de passá.”

“Certo, mano, certo.”

“De dois tá bom? Cinco já chama atenção.”

“Ah, mas de dois nem vale o papel e as tinta. Melhor fazê de trêis então, não é nem dois, nem cinco. Fácil de passá e rende mais.”

“Tu manja, mano. Tu manja. Fechô.”

E o pior, meus queridos (sim, tem coisa pior!), é que as cavalgaduras conseguiram usar parte do dinheiro falso nas lojas da cidade. Tem retardado para tudo nesse mundo: para falsificar notas de três e para recebê-las de bom grado. Agora me diz qual a orelha maior?

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Eu e as Senhorinhas

“Ju, vai rolar a sessão de fotos no lar das senhoras amanhã às 9:30. Você pode?”

Posso, claro” Podia nada. Dei um jeito. A verdade é que fazer trabalho voluntário em lares de idosos é uma vontade antiga minha e eu não ia perder essa chance por nada.

Cheguei e já fui recebida por uma dúzia de sorrisões, devidamente acomodados nas poltronas na frente da instituição. Dava para sentir no ar a animação delas com o acontecimento que se aproximava. Elas seriam as nossas top models naquela sexta-feira e estavam ansiosíssimas.

Fui conversar com as outras fotógrafas que estavam lá dentro enquanto as senhorinhas foram chegando, devagar, braços dados, algumas com bengalas, outras amparadas pelas funcionárias.


Chegaram falantes, já. “Eu moro aqui. Eu aqui. Essa é a minha casa, vocês vão entrar depois para um café, né?” (o lar é bem legal e algumas moram em casinhas individuais ou para duas pessoas). Elas falavam sem parar, entre elas, conosco, até que uma chegou, quieta. “E a senhora, onde mora?” Perguntei, puxando papo.

“Eu moro no ar.”

“No ar?”

“É. O vento bate e a gente voa.”

Não, ela não está louca. Ao contrário. Coisa mais linda, isso. Imaginei aquela senhora, a dona Rita, sentada no banco do jardim, longe dali. Os olhos dela me diziam mesmo que ela não morava naquele lugar. Ela morava no mundo, nas memórias das sensações que o vento, o mesmo de outros tempos, trazia de presente quando assobiava nos seus ouvidos. Senti aquele familiar bololo na garganta e respirei fundo para não causar uma commotion ali, logo de cara. Segura o tchan, mulher. A idéia era fotografar as mulheres felizes, sorridentes, e uma fotógrafa esgoelante não teria exatamente esse efeito.

Vocês precisavam ter visto, elas estavam lindas. Cada uma ao seu estilo, haviam se aprumado todas. Puseram o melhor vestido, tiraram as jóias da caixinha de música e levaram para tomar sol, coloriram as bocas, os olhos e as bochechas enrugadas, arrumaram os cabelinhos brancos e ralos, puseram echarpes e chapéus. Algumas se enfeitaram com flores e passaram esmalte cor de rosa.

Curiosas que só elas, não perdiam um movimento nosso. Quando sacamos as câmeras e começamos a ajustar as definições, o alvoroço foi geral. Poses disfarçadas começaram a pipocar, algumas nervosas, outras atiradas, nenhuma indiferente. Eu queria fotografar tudo, todas ao mesmo tempo, e guardar aquela alegria generalizada para espalhar por aí, mostrar e levar de volta para elas, ampliada em um porta-retratos. E fui, me realizando com as mais de 400 fotos tiradas em uma hora e meia de convivência com aquelas mulheres maravilhosas.

Sentaram em todos os bancos do jardim, andaram pra lá e pra cá (provavelmente mais do que andariam durante uma semana toda de calmaria), posaram sós, em duplas, em trios, em grupos. Fizeram piadas, contaram das aventuras juvenis, falaram, saudosas, de maridos, filhos e netos. Falaram da solidão.

Hoje eu sei que a dona Eiko morre de saudade do neto que está no Japão e escreve para ela de vez em quando, mas não tanto quanto antes; sei que a dona Dalila tem 93 anos de idade e a vaidade de uma adolescente e adora receber as amigas em sua casa para uma boa conversa; sei que a dona Abigail de 89 anos foi casada e muito feliz com o maridão, que se foi e deixou muita saudade e a aliança que ela exibe orgulhosa levantando o dedo médio (sim, o médio); sei que a dona Odete, que normalmente nunca chora, tem ficado com os olhos marejados de tanta dor nas articulações por motivos que os médicos ainda desconhecem, mas que os exames estão marcados para a semana que vem. Sei que apesar da dor imensa, ela se levantou e, devagar, bem devagar, amparada pela enfermeira, andou até a cadeira da varanda para posar para mim, e chorou.

Sei que uma delas, de quem não consigo me lembrar o nome, pegou a minha mão quando eu fui me despedir e não quis mais soltar. Ela não disse nada, apenas segurou forte e me olhou, sorrindo. Sei que elas, e não só a dona Rita, realmente moram no ar e voam com o vento, e sei que eu não vejo a hora de voltar lá para encontrar aquelas senhorinhas de novo.








link para outras fotos:

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

24 de agosto

24 de agosto, dia internacional do P.I. - vai vendo.

Acordamos na leseira total, aquela coisa que paira invariavelmente no ar em um domingo de sol.

Queríamos ir ao Street Jazz em Moema e à bienal do livro no Ibirapuera. Minha queridíssima amiga disse que às cinco da tarde seria o lançamento do novo livro da Elisa Lucinda e pretendíamos conferir e tietar. Antes de qualquer coisa, porém, ela (a minha amiga, não a Elisa Lucinda...) teria que fechar as médias dos seus alunos que ficaram de recuperação.

Faz uma planilha no Excel, muito mais fácil.” Sugeri.

Ai, Ju, não sei mexer nessas coisas.”

Eu faço prá você.”

Como as pessoas ficam de recuperação hoje em dia... Eita. Uma galera mesmo, uns quinze de cada classe, quatro turmas ao todo. Toca montar as planilhas, formatar, botar fórmula, digitar nominho por nominho (cada nominho...).

Terminamos lá pelas tantas e partimos rumo a Moema para curtir música boa na rua, comendo porcaria. Lugarzinho longe, Moema. Anda, anda, anda, erra um pouquinho, anda de novo. Chegamos. Infra montada, caixa de som prá todo lado, um monte de gente com camisa da organização e só. Chegamos na hora errada. O babado começaria às 16h e chegamos às 14h. Andamos um pouquinho por lá só para sentir o cheiro do jazz de prima que ia rolar naquele lugar dali a algumas horas, conversamos com uns e outros e pegamos o carro rumo ao Ibirapuera. Fazer o quê? Bienal, aí íamos nós.

Anda, anda, anda, fila gigante para entrar no parque, nada de vaga e um enxame de amarelinhos fazendo a festa das multas dominicais. Fila gigante de novo, procura, procura, achamos a nossa vaguinha. Nada como uma tarde de sol, domingo, no Ibirapuera. Gente prá todo lado, fila prá todo lado, bicicleta prá todo lado, você quase sendo atropelado por uma meio desgovernada...

Anda, anda, anda. “Moça, onde é a entrada da bienal?”. Ela olhou para nós com um gente louca estampado na testa e disse: “No Anhembi.”.

Estávamos varados de fome e no lugar errado. Perfect. Ok, Ok, vamos comer antes de qualquer coisa e depois a gente se manda para o outro lado da cidade para, dessa vez, ir à bienal. Restaurante do MAM. Um lugar delicioso rodeado de arte, com comida de primeira, gente interessante, clima agradabilíssimo e... Espera. Fila de espera, junto com uma hostess meio barraqueira-encrenqueira que quase tirou a gente do sério. Paciência, o dia já não estava lá essas coisas e uma luta corporal com a fulana no meio do restaurante do MAM não iria ser de grande ajuda.

Comidos e um pouco mais calmos, partimos rumo ao Anhembi para vermos o lançamento do tal livro e passear na feira. Anda, anda, anda. Lugarzinho longe de novo. Paramos o carro, anda, anda, anda. Entramos finalmente no pavilhão da feira. Já estávamos tão cansados que a sensação, ao invés de boa, foi um pouco desesperadora. Tanta coisa para ser vista, tanto acontecendo e nós lá, exauridos, querendo ver Telecine light embaixo do edredon. Ok, Ok, é a bienal, tem livro prá todo lado e tem a Elisa Lucinda. Vamos achar o estande e corre que já está em cima da hora.

Chegamos.

Elisa Lucinda? Foi ontem. Às cinco da tarde. Foi ótimo, muito legal mesmo...”

A moça continuou falando e a gente se entreolhava não acreditando naquele dia do inferno. Fala sério. Zicado é pouco para o nosso 24 de agosto. Acordamos fazendo planilhas, chegamos na hora errada para o jazz, no lugar errado para a bienal e no dia errado para o lançamento do livro.

Agora me pergunta se foi um dia bom.

Foi. Foi sim.

Por incrível que pareça, apesar de todos os desencontros, das furadas, dos erros de percurso, foi um dia divertidíssimo ao lado dos meus queridíssimos amigos-família. Morremos de rir das nossas idas estapafúrdias aos lugares errados nas horas erradas, rimos da bicicleta assassina, do cara de xana, dos meus tropeções no estacionamento, dos nomes dos alunos nas planilhas, das imitações de amigos com direito a registro fotográfico, das picuinhas com a hostess, do telefone para surdo, do Tawanda no Ibirapuera, das paródias com as músicas do Balão Mágico. Rimos com gosto das nossas desgraças e acabamos o dia juntinhos, os quatro, no sofá. O segredo é mesmo picar os limões e fazer a tal limonada bem adoçada com amigos queridos. Valeu meus amores! Que venha o próximo 24 de agosto.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A Multa

Moço!”

Nada.

Ei moço!”

Ele me olhou como se eu fosse uma gosma nojenta.

Você vai multar?”

Já estou multando.”

Por quê?”

A senhora conhece o código de trânsito?”

Que audácia.

Qual a infração, posso saber?”

A senhora estacionou a menos de 5 metros da esquina.”

Filho da p... Não acredito que esse amarelinho mal amado vai ser sacana a esse ponto. Nem o diretor do DETRAN cumpre essa regra, faça-me o favor.

Mas moço, eu não estou atrapalhando ninguém.”

Está atrapalhando a conversão à direita.”

Só se for da sua mãe, que deve ser a rainha do braço...

Eu acabei de estacionar e já vou sair. Por favor, não...”

Já era.” Disse, saboreando o momento e esfregando o papel amarelo no pára-brisa do meu carro, sorrisinho sádico no canto da boca. Depois virou, mudou a página do bloco e foi, todo feliz, multar o próximo otário.

Gente do céu, tanta cavalgadura fazendo barberagem por aí, atrapalhando o trânsito, estacionando em fila dupla, parando cruzamento, dirigindo que nem maluco e o maldito guardinha desocupado resolveu encanar justo comigo, quieta e estacionada direitinho em uma rua tranqüila às 4 da tarde de uma terça-feira. E por quê? Por estar a menos de 5 metros da esquina. E quem não está, meu bem? Hoje em dia com essa profusão de carros e essa escassez de ruas, ou se pára na esquina ou não se pára. Vale, então, o bom senso. Está atrapalhando alguma coisa? Não. Então tá. Mas não tá, não, porque bom senso não é um assessório disponível nesses amarelinhos tapados. E sádicos.

Ô raça.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Ela vem!

Sim, ela vem!

Dias 14 e 18 de dezembro tem Madonna no Brasil. Nem acredito que dessa vez é pra valer.

Já tivemos tantos alarmes falsos nos últimos anos que eu falei que só acreditava vendo, ou melhor, quando estivesse à venda. E não é que está? Quase. Já existe um site onde se pode entrar para fazer um pré-cadastro. Um protocolo de intenções. Coisa de Diva-mor. Um site só para você dizer que vai comprar na hora em que começar a vender. Anotem aí o link:
http://www.ticketsforfun.com.br/.

Pergunta se eu já entrei? Há, há. Entrei e espalhei e continuo espalhando. Essa mulher merece. E digo com propriedade e com conhecimento de causa, afinal, não é de hoje que sou fã de carteirinha dessa superstar. Que nada. A minha paixão pela loira começou em 1990 depois de assistir ao famoso Na Cama com Madonna, aquele da brincadeira de Truth or Dare com a tão falada cena da garrafa. Eu tinha 14 anos. Fui ao cinema meio arrastada por uns amigos da escola e pirei. Adorei aquela pessoa tão talentosa, carismática, determinada, louca e ao mesmo tempo senhora de tudo ao seu redor. Ela dançava, cantava, atuava, produzia, desafiava e provocava e sabia exatamente onde queria chegar com isso. E chegou.

E se reinventou. Over and over. A cada nova geração, uma nova Madonna aparecia, com novos sons, looks, bafos e todo o glamour que sempre rodeou esse furacão pop. Nem preciso dizer que em 1992 eu estava lá, né? Morumbi lotado, eu, minha irmã e alguns amigos queridos desde as 6 horas da madruga na fila gigantesca ao redor do estádio. Que dia! Vimos passagem de som com ela enrolada na bandeira brazuca, ensinamos palavrões que seriam ditos mais tarde no show, quase morremos esmagados pela multidão, choramos com Rain e Holiday e curtimos horrores aquele show maravilhoso.

Já estava na hora de um repeteco em grande estilo. Achei que teria que atravessar o Atlântico para passar por isso de novo, mas Maomé virá à montanha at last. O Morumbi que me aguarde, dessa vez rodeada por uma caravana de loucos pela Diva. Sticky & Sweet é o nome da turnê e é provavelmente assim que vamos terminar o dia 18 de dezembro. Grudentos e doces e felizes da vida.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

O Batizado

Ela chegou linda. Uma princesinha toda de branco, vestido plissado, faixa nos cachinhos castanhos, sapato branco chiquérrimo e bolsinha pendurada de lado. Um charme.

Eu cheguei atrasada, lógico. Não atrasada, atrasada. Cheguei na hora para a cerimônia, mas perdi todas as instruções de coordenadas dadas meia hora antes aos padrinhos. Domingo de manhã... Paciência. Colei no Gabriel (o padrinho), perguntei as principais orientações e entrei na fila na porta da igreja.

Entramos. Ela se deslumbrou com o visual. Aquela igreja é mesmo linda. Toda rodeada de vitrais enormes coloridos, altar gigante cheio de brilhos. Luz entrando por todos os lados. Eu me deslumbrei. Ela nem piscava.

Sentamos, os cinco, no mesmo banco: eu, minha irmã, meu cunhado, o Gabriel e a piquita, e como não poderia deixar de ser, fervemos horrores. Qualquer dia ainda vamos ser banidos por mau comportamento de um desses eventos religiosos.

A Larinha, pelo jeito, puxou à família e era a mais desgovernada da trupe. Sem nenhuma cerimônia, falante que só ela, já totalmente fluente na língua dos bebês, agarrava os cabelos da minha irmã e abanava os bracinhos para o alto, o que resultava em alguns tapas sonoros e extremamente doloridos, que por sua vez provocavam gargalhadas também sonoras da pequena e dos adultos babões.

Ela fez de tudo: brincou com o seu livro inflável, comeu danoninho, deu um show de alongamento saboreando o sapato novo, fez bruuuu, dançou música sacra, deu tchauzinho, bateu palma e lá pelas tantas, vomitou. Nada sério, só um blurp regado a leite em pó que, por sorte, combinava com a cor do vestido plissado. Nós, em volta, acompanhávamos as peripécias do pacotinho e sapeávamos o andar da celebração. Era fácil: quando percebíamos alguma movimentação generalizada ou quando começava alguma musiquinha do coro, suspendíamos a ferveção. Musiquinha é batata. Se tem musiquinha, lá vem alguma coisa que envolve a criança, ou a madrinha, ou as duas.

E ela ficou de boa. Eu tinha medo de que ela chorasse, ficasse nervosa, agitada, assustada. Nada disso. Curtiu mesmo. Uma mocinha. As únicas exceções, sei lá se por conta da batina ou da aparência estranha do padre, foram os momentos em que ele se aproximava e ela ameaçava dar um piti. Só ameaçava, porque eu logo apontava e dizia “olha o tio, Lalá, olha o tio”, e ela olhava, e fazia uma cara de e sossegava. Tá, talvez eu tenha dito “olha o tio” muito alto em uma das vezes e a minha irmã tenha me cutucado e falado morrendo de rir: “psiu, pára de chamar o padre de tio”, mas isso é detalhe. A estratégia funcionou, a Larinha gostou de olhar aquele tio esquisito e é isso que vale.

Por incrível que pareça, a baixinha ficou de boa até na hora da água na cabeça. Criança normalmente chora, esperneia, faz a desgraçada. Ela nada. Coloquei a cabecinha dela no meu braço esquerdo (lição do curso de madrinha), virei para a pia, chuá... Ela riu. Sorriu para o tio. Acho que ela pensou: “êba, o tio estranho vai me dar um banho”. Certeza. Ela adora banho.

Sei que no fim, ela se deu bem com o tio, amou os vitrais coloridos, chacoalhou com as músicas e ainda se encantou com a imagem de Nossa Senhora. Ficou deslumbrada. Olhava atenta, pegava, passava as mãozinhas... Gostou tanto que acho que vou dar uma Nossa Senhora de presente para ela de aniversário. Já estou até vendo as amiguinhas com bonecas em formato de bebês, brincado por aí, e a Larinha circulando com uma imagem de Nossa Senhora nos braços, brincando de ninar.


Brincadeiras à parte, o ritual foi bonito e eu realmente me emocionei no momento do batismo. Bonito o símbolo. Bonita a reação e a emoção das pessoas àquele símbolo. Poético o banho no meu anjinho. Transformador. Hoje eu sou a madrinha da Lalá.
















sexta-feira, 15 de agosto de 2008

TPM, eu?

E eu que sempre me gabei de não ter TPM. Hora de rever alguns conceitos.

Sempre me gabei porque não fico de mau humor, não subo pelas paredes, não arranco os cabelos por besteira. Nada disso. Sou da paz até nos benditos dias que antecedem a regra.

Acontece que ultimamente tenho percebido um padrão que tem me deixado cabreira.

Lágrimas. Há dias em que eu viro um potinho de Aviação completamente líquida de tão derretida. Fico tão, mas tão emotiva que qualquer propaganda de Doriana me faz suspirar fundo para não borrar o make up. Nesses dias, entro no carro e ligo logo a CBN para não correr o risco de ouvir uma baladinha mais lenta. Brasileiro no pódio da olimpíada, então, valha-me Deus. Nem adianta tentar segurar. E às vezes não seguro mesmo. Não dá. É aquele filme que mexe comigo, aquela música escrita para mim, aquela lembrança doída... Desabo, viro um ET de nariz vermelho e pálpebras inchadas e destroço a caixa de Kleenex e passo o resto do dia com uma pedra de três toneladas na minha cabeça.

Eu não sou assim, gente. Nunca fui. Tá, não sou um iceberg mas também nunca fui de me desmantelar desse jeito por qualquer coisinha. O bafão nunca me caiu bem, sou mais contida, reservada, um “eterno segredo”, como diria a minha mãe. Agora isso.

Então paro para pensar e percebo que esses dias de comportas abertas coincidem miraculosamente com o meu período fim de ciclo. Quem diria, eu de TPM. Essa é nova e espero que se torne velha logo. Isso cansa, estressa. Haja floral. Nada contra os ciclos, nada contra extravasar as emoções, mas daí a soluçar revendo Friends, ninguém merece.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Vovó e a Trilha

A minha avó fez trilha comigo esse fim de semana. Trilha mesmo, nada de estradinha de terra ou passeio no bosque. Trilha com troncos, pedras, lama, subidas, descidas e uma nascentezinha de rio lá em cima como recompensa. Coisa mais linda, não a trilha, a minha avó.

Ninguém botava fé em que ela iria realmente encarar o caminho. Ela sempre foi super urbana, caseira, mãe exemplar, avó maravilhosa, mulher by the book. Nunca fez trilha na vida, longe disso. 78 anos de idade. Pois não só encarou o caminho, como o fez com um bom humor de dar gosto e um bom gosto de babar, com direito a colares, brincos, pulseiras e um par de chinelinhos de sola lisa, porque usar tênis, nem pensar. Vaidosa... Essa mulher é demais.

O percurso não foi fácil, ela passou por alguns obstáculos complicados, riu dos seus pequenos escorregões amparada pelas nossas mãos e se esbaldou. O seu sorriso aberto naquele ambiente tão diferente de tudo a que ela está acostumada e rodeada pelos seus entes próximos e queridos é uma das imagens mais deliciosas que vou guardar comigo. Esse tal amor incondicional é mesmo uma coisa louca.

O passeio foi um presente inesperado, uma passagem por uma trilha desconhecida ao som de histórias e risadas de pessoas que me conhecem desde sempre e que são a minha referência, minha base primordial. Lavagem de alma das boas, dessas que não se programa, que a conjunção das coisas te proporciona e que você simplesmente aproveita e registra lá no fundo do ser e em uma câmera digital, se tiver sorte.

































quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Olimpíadas

O-lim-pí-a-das. Uhu, mil vezes uhu.

Eu já mencionei que sou uma dessas loucas por olimpíadas? Não, né. Falha grave. Sou mesmo. Devia estar no meu perfil. Adoro, amo, piro na batatinha. Deve ser porque eu sempre joguei de tudo, gostei de tudo, e porque eu sou brasileira roxa. Torço mesmo, de xingar, e acordo às 4 da manhã para ver a final do vôlei de praia, e varo noite emendando natação no judô no basquete na esgrima no salto com vara na marcha atlética na ginástica rítmica no nado sincronizado e por aí vai.

Só de pensar em ligar a TV a qualquer hora do dia ou da noite e ver aquilo tudo acontecendo ao mesmo tempo agora eu já fico maluquitadasilva, mas isso eu nem precisava dizer, já que o andar do texto já me denuncia facinho.

Sei lá, gente. Sou assim. De quatro em quatro anos acontecem esses vinte dias fantásticos que passam voando e deixam uma saudade gigante e um buraco enorme na minha programação televisiva quando terminam. E aí eu digo, na próxima eu vou assistir ao vivo, e passam os quatro anos e chega Atlanta, Sydney, Atenas, Pequim e eu aqui, do outro lado da telinha. 2012 está aí e me segura porque de Londres não passa.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Até Você Dormir

Eu vou ficar com você até você dormir”. Mãos dadas, dedos escorregando de leve pelos cabelos longos, olhos de ternura.

Essa foi a cena de um filme que vi esses dias, ótimo, carregado de entrelinhas, personagens vivos, cheios de camadas. Coisa de gênio. A cena me tocou de um jeito estranho. Na verdade me lembrei das vezes em que tinha ouvido essa mesma frase nessa mesma situação. Lembrei da sensação, daquele calorzinho no peito, da segurança, do conforto e da paz de ter alguém que te ama te vendo dormir e ninando você.

Que importância têm esses momentos na vida da gente. Não são grandes acontecimentos, não mudam os rumos, não tremem o mundo, mas são o tempero que dá graça a essa viagem de grandes objetivos, o nosso respiro, o alívio para essa sombra de solidão que permeia o humano entre o chegar e o partir.

Passei o dia pensando nisso, nas vezes em que fui cuidada assim pela minha mãe, pelo meu pai e por outras pessoas que compartilharam comigo esse carinho e me senti tão privilegiada e ao mesmo tempo muito só. Serzinho complicado esse aqui. Peito grande demais, cheio de reverberações. As coisas eram tão simples na época do ninar pela mamãe...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Figura

Dá prá fazer depilação a laser na cabeça?”

Ele me perguntou de repente como se fosse a coisa mais corriqueira do mundo. Olhei para ele procurando algum traço de humor e nada, a questão era mesmo genuína.

Gargalhei, muito. Ele entendeu a graça e entrou no riso, meio sem jeito, meio na defensiva, querendo justificar a normalidade da sua pergunta. Todo o mundo pagando fortunas por um implante, usando shampoo de jaborandi e elixir milagroso para crescer cabelo e ele querendo arrancar prá sempre. Típico. Ele não é normal e sabe perfeitamente disso, nós dois sabemos. Cá entre nós, muito melhor assim.

Ele é uma das figuras mais interessantes, engraçadas e mal humoradas que eu conheço, responsável por aquelas piadas ácidas de franzir a testa. Se qualquer outra pessoa fizesse os comentários que ele faz, o mal estar seria completo. Com ele, vira piada - só piada, só risada, o tempo todo. Ele fala de tudo e de todos e faz questão de dizer coisas politicamente incorretíssimas, para as quais eu muitas vezes nem tenho reação. Depois de todos esses anos ele ainda consegue me surpreender com a sua percepção do avesso da natureza humana, com os seus conselhos sentimentais estranhos (para dizer o mínimo) e com a sua vaidade inigualável, o que nos leva de volta à primeira frase inspiradora desse texto.

Depilação a laser na cabeça, fala sério. Só um figura como ele para ter uma idéia de jerico assim. Aliás, ele é cheio das idéias nonsense quando se trata do visu. Quarta queimou as pintinhas do rosto, vive falando que vai fazer uma lipo e cirurgia no nariz, malha como louco, caminha no Taquaral, toma suplemento, dança na frente do espelho e agora quer depilar a cabeça com laser.

Eu só dou risada e aproveito as suas tiradas inesperadas. Estar com ele é mesmo um prazer diferente, como comer um daqueles chicletes ácidos que ardem até a alma mas que você gosta e acaba sempre querendo mais. Eu tenho um estoque deles comigo e como mesmo, adoro. Engraçado como pessoas tão diferentes de você acabam se tornando inesperadamente seus grandes amigos.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Tomando

Em conversa com uma amiga: “Menina, você emagreceu muito. O que você anda tomando?”

“No cú. Não literalmente...”, foi a resposta na lata, sem titubear.

Gargalhamos loucamente. O pior é que era mesmo verdade, historinha cabeluda, a dela. O melhor é que tomar naquele lugar tem de fato esse efeito sobre a silhueta de uma mulher, mais eficaz que vigilantes, inibidor de apetite de gotinha e aula de powerjump junto. Infalível. Até o meu apetite, sempre voraz e inabalável, se estremece com doses inesperadas de nocú.

Recomendo, porém, doses pequenas, espaçadas, homeopáticas. Dosagens maiores trazem efeitos colaterais absolutamente indesejáveis.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Como uma Deusa

Abri os olhos... Como uma deusa...

Ãh? Rosana? Que diabos essa música está fazendo dentro da minha cabeça?

Pisquei, olhei para o teto, cocei a barriga do Lu, tentei pensar em outras coisas, mas a maldita balada rainha do brega teimava em continuar ressoando em alto e bom tom no meu íntimo.

De onde saiu isso? Que raio de conexão desnorteada aconteceu nas minhas sinapses para essa música jurássica e aleatoríssima invadir assim a minha manhã?

Levantei, escovei os dentes, fui passear com o pequeno, voltei... Tão perto das lendas, tão longe do fim...

Vixe.

Tomei café, li o jornal, atendi o moço da banheira, liguei o computador... Aqui neste lugar, não há rainha, ou rei...

A coisa não me largava de jeito nenhum. Ninguém merece O Amor e o Poder, gente.

Decidi apelar. Existem algumas músicas que são tão, mas tão grudentas que uma vez implantadas em você, nem Cristo tira. Uma dessas seria a minha salvação. Tudo, ou quase tudo, seria melhor que como uma deusa. Avaliei minhas opções: Háháhá da Xuxa, O Pintinho... Não, trash demais, e então o velho Frank me salvou.

Bastou cantarolar o refrão e pronto: um dia ao som de New York, New York. Assim sim.