quinta-feira, 24 de abril de 2008

Feira

Foi-se o tempo em que a melhor maneira de se escolher frutas e legumes no supermercado era procurar pelas unidades mais bonitas e vistosas. Tudo está do avesso hoje em dia, verduras e legumes inclusive.

Pois não é que deu no jornal que a concentração de agrotóxicos nos produtos está tão grande que a melhor forma de minimizar os danos à saúde é, pasmem, escolher os itens mais feinhos? Está lá, com todas as letras: na hora de escolher tomates, beringelas, pepinos, bananas, mamões e laranjas, evite os muito bonitos e opte pelos mais franzinos e maduros. Mais ou menos o que algumas amigas minhas sugerem que se faça ao escolher um homem para casar. Aparentemente, homens e legumes muito bonitos são dotados de uma concentração maior de veneno que, no longo prazo, pode ser prejudicial à saúde física e mental.

Se a coisa continuar assim, o monte de tomates judiados que ficava no canto do mercado pela metade do preço vai virar a vedete da quitanda, enquanto os grandes e viçosos vão acabar de escanteio, longe das mãos da mulherada. Agora, apesar de todos os avisos, duvido que o mesmo ocorra quando a feira é de outra natureza. No dia em que sobrar homem viçoso por aí, o mundo vai estar estranho mesmo.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Quiabo

“Hummm, esse quiabo está uma delícia”

“Eu não gosto de quiabo.”

“Jura? Quando você provou?”

“Nunca. Acho nojenta a babinha e nunca tive coragem de experimentar”.

“Sei.”

Sei mesmo. O que ela nunca ficaria sabendo é que quiabo teria sido o seu prato preferido se o tivesse provado. Como não o fez, continuou com o feijão com arroz.

Conheço inúmeras pessoas que “não gostam” de quiabo, de mariscos, de língua, de alfafa, de jaca, de rabo, sem que sequer uma vez em suas vidas tenham submetido tais iguarias às suas pobres papilas gustativas. Faltando-lhes coragem para provar do estranho, decidem dele “não gostar”, repelindo-o.

Não consigo entender esses espécimes e, para dizer a verdade, tenho pena deles. A curiosidade sempre foi uma de minhas maiores forças motrizes, e ainda que me tenha colocado em algumas situações embaraçosas (que não vêm ao caso neste momento), foi também responsável por proporcionar-me experiências incríveis.

A vontade de conhecer o desconhecido, de sentir o nunca sentido, de ouvir a melodia inédita, de degustar o exótico, de saber tudo o que não sei, me surpreende e me infla de experiências, ampliando meus horizontes de possibilidades.

Pobres dos que se resignam em seus círculos de conforto e se cercam somente de coisas conhecidas e previamente aprovadas. Esses estão fadados a apenas reviverem, condenados a repetirem momentos e sensações, perdendo, por opção, o banquete do novo que a vida nos apresenta todos os dias.

Experimente! O mundo é interessante e múltiplo demais para que vejamos e sintamos sempre as mesmas já vividas coisas.

Eu, por meu turno, deleito-me cada vez mais com o inusitado. Adoro quiabo, alfafa, língua e, deixando claro que estamos falando de comidas, delicio-me com um bom rabo de boi.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Devoradora de Livros

Minha sobrinha é uma devoradora de livros.

Nos últimos dias, nenhum dos seus brinquedos coloridos, barulhentos e fofinhos tem sido páreo para o livro ilustrado do patinho feio. Nem mesmo os mordedores high tech de silicone importado têm conseguido superar as páginas celulósicas da história infantil no caminho para a sua boquinha incansável.

Aparentemente, os cantinhos já gastos da publicação surtem um efeito muito mais prazeroso no combate à coceira dos dentinhos de leite do que qualquer outro apetrecho inventado pelo homem para este fim.

O que dizer dessa garota que, toquinho de gente, já tomou, literalmente, gosto pelos livros? Essa promete!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Urubus

Tenho dividido apartamento com três urubus.

Sim, é verdade. E não estou falando de urubus da espécie humana, daqueles que por terem comportamento de rapina são carinhosamente apelidados com o nome da ave carniceira. Felizmente não se trata desse tipo medonho de urubu.

Tenho realmente três gigantescas aves negras de bico curvo circundando minha casinha suspensa.

Outro dia estava eu assistindo a qualquer coisa na TV quando percebi um vulto negro passando por sobre o terraço. Que estranho, pensei. Logo depois, vulto novamente. E de novo. Quando saí para ver, lá estava o trio sinistro pousado nas antenas do prédio ao lado, olhando para mim.

Mais do que depressa entrei, peguei minha câmera e fui, toda feliz, registrar aquele momento especial. Com a máquina a postos, observei pelo visor que os animais aproximavam-se demais. Meu zoom não costumava ser tão poderoso assim. Foi então que percebi que eles estavam, na verdade, vindo em minha direção. Eu estava sob ataque.

Por algum motivo obscuro meus novos vizinhos não haviam gostado de mim. Talvez fossem tímidos ou eu estivesse tentando registrar-lhes o perfil ruim. Talvez fossem como alguns amigos meus que, ao me verem apontar-lhes a câmera, têm acessos de raiva e saem desembestados em sentido oposto. Os urubus, no caso, foram mais agressivos e decidiram partir para cima de seu observador.

Entendi o recado, guardei a câmera, recolhi meu cachorrinho e fechei todas as portas e janelas. E não pensem: “que exagero”. Como diria minha avó, os bichos eram maiores que um dia sem pão. Com as asas abertas, tinham a mesma envergadura que eu de braços estendidos, ou seja, considerando que eles eram três, têm bicos afiados, unhas de predadores e sabem voar, a briga seria das boas. A hora era perfeita para tirar o time de campo.

Passei aquela tarde com o nariz na porta de vidro observando a movimentação de meus novos e nada amistosos vizinhos. “E agora?”, pensei. Teria eu de viver trancafiada em meu próprio apê até o fim dos dias daqueles animais? Quantos anos vive um urubu? Eu precisava descobrir.

Alguns minutos após, o Google me disse que os adoráveis Ciconiiformes vivem cerca de cinco anos na natureza, podendo chegar a até dezesseis em casos não usuais e a até trinta anos em cativeiro. Eu estava perdida. Só poderia sair em meu terraço novamente quando já tivesse netos. Isso não estava certo.

Eu sei que os grandalhões têm a sua função ecológica, pois gostando de carcaças como gostam, acabam livrando o mundo da podridão e do mau cheiro de carniça que ninguém merece. Agora, vamos combinar, na minha casa? Em um lugar limpinho, cheiroso e obviamente desprovido de carcaças em decomposição, os tais lixeiros do reino animal não teriam utilidade alguma. Ao contrário.

Decidi então tomar uma atitude drástica: falar com a síndica. Expliquei-lhe a situação, descrevi a tentativa hostil de ataque e pedi-lhe providências. No manual dos síndicos deveria haver alguma dica sobre como proceder em casos assim.

Não havia. Nada obviamente foi feito e eu tive que me adaptar às novas condições de moradia.

Nos dias que se seguiram fui gradativa e cautelosamente voltando a freqüentar meu terraçinho. Sempre que abria a porta, olhava ao redor e saía, pé ante pé, para certificar-me da segurança contra ataques aéreos.

Avistei-os muitas vezes depois daquele encontro fatídico e acredito que eles devam ter se acostumado com a minha presença, pois nunca mais arremeteram contra mim ou esboçaram qualquer atitude ameaçadora. Apenas me olham, de longe.

Por via das dúvidas, para o bem da boa convivência e de minha integridade física, nunca mais apontei-lhes a câmera. Quando não se gosta de fotos é melhor não insistir.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Pena

João da Silva com a chave inglesa no escritório. Foi assim que encontraram o pedreiro naquela tarde fria de maio. Ensangüentado, com a ferramenta na mão, debruçado sobre o cadáver da dondoca.

O caso teve uma repercussão estrondosa. Seria o primeiro acusado de assassinato a ser julgado de acordo com a nova lei, promulgada recentemente, instituindo a pena de morte no Brasil.

A mídia em polvorosa transformou o homem em celebridade maligna instantânea. Seus familiares, amigos, vizinhos, papagaio e o dono da padaria passaram a ser incessantemente assediados por repórteres ávidos por detalhes sórdidos da vida do ser abominável. Seus filhos deixaram de ir à escola, sua mulher foi dispensada por telefone pela patroa e entrou em depressão. Até suas cuecas foram roubadas do varal por moleques que as venderam dias depois em um leilão na internet.

Os magistrados envolvidos no trâmite da ação deram-lhe total prioridade. Não pegaria bem um caso como este durar os mesmos 15 anos de um processo normal. Não. Este caso seria emblemático e deveria ser julgado impecavelmente, em tempo recorde.

Eis que, três anos decorridos, a sentença foi proferida e o júri sequer titubeou: culpado, condenado indubitavelmente à pena capital. O homem fritaria na cadeira elétrica com direito a buchinha molhada na cabeça, extrema unção, último pedido e platéia morbidamente curiosa atrás da cortina. E assim foi feito. Sua execução foi parar até, sabe Deus como, no You Tube.

A ele se seguiram centenas de condenados por este Brasil afora, a ponto de os espectadores e, por conseguinte, a mídia, nem se interessarem mais. Matar supostos criminosos já não dava mais Ibope, o povo havia se acostumado ao circo. A atração teria de ser remodelada.

O que o grande público, repórteres e magistrados ficariam sabendo muito tempo depois, é que João da Silva, o pedreiro, se cobriu de sangue ao tentar socorrer a vítima, golpeada por outrem com uma arma muito parecida com a chave inglesa, que o trabalhador usara minutos antes para reparar o encanamento do lavabo.

Sem recursos financeiros para contratar um bom advogado, sem recursos intelectuais para argumentar e defender-se e com as circunstâncias em seu total desfavor, João da Silva foi morto por tentar ajudar.

A história acima é obviamente fictícia, mas poderia não ser. Dia desses deu no jornal que 47% dos brasileiros são favoráveis à instituição da pena de morte no país. Se você ficou chocado, como eu, saiba que esse número já foi muito pior: em 2007, 55% dos brasucas queriam ver seus criminosos passarem dessa para uma melhor (ou pior, vai saber) por determinação do Estado.

A minha impressão é de que se trata de uma fatia excessivamente gorda para um país, até onde se sabe, cristão. Afinal, a não ser que eu tenha entendido tudo errado, a lei do “olho por olho, dente por dente” é ligeiramente diferente de “dê a outra face”, não?

Além da óbvia ululante diferença conceitual, há a seríssima possibilidade de que um olho seja castigado com um dente ou uma unha com um olho, e assim vai. João da Silva que o diga.

Decisões judiciais são sujeitas a erros como quaisquer decisões humanas. Testemunhas são corruptíveis e passíveis de enganos, pistas são deturpáveis, júris são manipuláveis e advogados têm poderes de argumentação e convencimento tão distintos quanto o preço de seus ternos. Na verdade, a dança nos tribunais aproxima-se muito de uma brincadeira infantil de máfia, não sendo para mim admissível que vidas sejam tiradas a partir de decisões tomadas nesse tipo de jogo. Outras penas são reversíveis, consertáveis, compensáveis. Não há como voltar atrás na pena capital.

Além da possibilidade de se assassinar friamente um inocente, há outras questões envolvidas. Como definir, por exemplo, quais crimes seriam punidos com a penalidade máxima? Assassinatos em geral? Assassinatos premeditados com toques de crueldade? Estupros? Como definir a arbitrária linha de corte para o que seria suficientemente perverso a ponto de ser punido com o extermínio? A quem caberia esse direito?

Tenho cá para mim que o Estado não pode tirar uma coisa que não pode nos dar. Diferentemente da liberdade ou da propriedade privada, a vida é um bem que deveria estar acima das leis humanas.

Que valha, portanto, o “aqui se faz, aqui se paga”, e entendo que mandar o fulano para o outro mundo não seja a melhor maneira de se fazer isso. Criminosos e pessoas perigosas à humanidade devem ser isoladas do convívio social, mas não exterminadas. E nem me venham com o argumento capcioso de que a sociedade não tem a obrigação de sustentar vagabundos. Se há falhas no sistema prisional, tais falhas devem ser corrigidas para que os detentos sejam produtivos, compensem seus custos com trabalho e, na medida do possível, regenerem-se. O assassínio de condenados para reduzir a superlotação de cadeias e diminuir os custos de tais instituições não é uma solução, é um absurdo. Não há que se corrigir um erro com outro maior.

Por fim, me vem à cabeça um último argumento, utilizado pelos defensores da pena de morte como recurso desesperado em todas as discussões sobre o tema: se você perdesse alguém que ama assassinado de forma brutal, mudaria de opinião. Minha resposta? É possível. Nessas condições, com a razão encoberta pela ira, eu provavelmente defenderia com unhas e dentes a aplicação da pena capital ao algoz de meu ente querido. Não sejamos, porém, irresponsáveis. Um assunto dessa seriedade e com conseqüências literalmente mortais, deve ser matéria a ser estudada, discutida e decidida por pessoas imparciais, esclarecidas e com seu julgamento livre de rancores pessoais.

Por sorte, o bom senso tem prevalecido no Brasil desde os idos de 1870 e espero que continue assim indefinidamente. João da Silva agradece.

sábado, 5 de abril de 2008

Gostinho de Ontem

Não sei por que cargas d’água tenho andado em uma fase de desenterrar memórias gastronômicas da minha infância. Há muito tempo não comprava Sucrilhos, gelatina, mussarela de bolinha. Pois é, em minhas últimas idas ao supermercado esses itens, por algum motivo obscuro, acharam seu caminho de volta para as minhas sacolas.

Bem, na verdade não se trata de um caminho de volta, uma vez que eles nunca fizeram parte das minhas sacolas. Entravam com freqüência nas sacolas de papel pardo dos meus pais, depois de muitos pedidos melados, puxões de saias e carinhas de gato de botas (que naquela época não podiam ser chamadas assim pois o pessoal da DreamWorks sequer sonhava em desenhar o bichinho fofo com sotaque latino). Entre dezenas de chocolates, refrigerantes, Danetes e bolachas, em geral os sucrilhos, a gelatina e o queijo bolinha eram alguns dos sobreviventes mais freqüentes.

Outro dia passei por acaso pela prateleira de comidas para bebês e acabei levando (vou registrar aqui, mesmo sabendo que isso pode e será usado contra mim) papinhas de nenê. Sim, você leu certo. Coloquei no carrinho alguns pares daquelas papinhas Nestlé que vêm nos potinhos de vidro. A boa notícia é que agora as tampinhas abrem facilmente e existem potinhos maiores. Pensando bem, talvez eu não seja a única a ter a lombriga dos potinhos. Deve haver outros marmanjos comprando os potinhos grandes para comer assistindo House. Só pode ser.


A minha última aquisição foi uma pérola que não poderia faltar nessa coletânea: Cremogema. Outro dia estava brincando com o meu cachorro e comecei a cantar a musiquinha da “coisa mais gostosa desse mundo”. Na visita seguinte ao supermercado, voilá: mingau de pozinho no carrinho.

A melhor coisa de comer essas guloseimas é que, ao contrário de outras paixões infantis, elas continuam maravilhosas. Tente assistir ao seu seriado de infância favorito e perceba a sensação. Aquelas cenas fantásticas que para você pareciam dignas do Oscar e do Urso de Berlim, hoje em dia são mais ridículas que novela mexicana. O avião invisível da mulher maravilha que o diga...

O reencontro com as suas paixões gastronômicas infantis, ao contrário, não irá te desapontar. Impossível descrever a sensação boa que tive quando o Cremogema começou a ferver e a cozinha ficou preenchida com aquele cheirinho de tantos anos atrás. Foi o mesmo com a papinha de bebê. Só o cheiro que escapou quando abri o potinho já valeu a ida ao supermercado. Eu sei que parece ridículo, mas me senti imediatamente como me sentia quando, toquinho de gente, me sentava com os pezinhos balançando longe do chão e minha mãe me dava o potinho para comer enquanto alimentava a minha irmã.

Gostei tanto das sensações e de reencontrar esses velhos amigos que não pretendo parar por aí. Minha próxima viagem já está decidida e será de volta ao tempo da Farinha Láctea. Hummm, sempre gostei daquele mingau grossinho com gruminhos e de roubar umas colheradas do pó para comer puro e ficar com o céu da boca todo grudado. Talvez isso me custe algumas horas extras na academia. Fazer o quê? Como diriam na época da minha infância, mais vale um gosto...

Pensando bem, até que as minhas guloseimas de infância eram bastante saudáveis. Minha volta ao menu dos anos 80 não me fará nenhum mal, além da agregação de alguns prováveis quilinhos inesperados. Agora, cá entre nós, imagine o que uma criança de 2008 terá de comer se decidir fazer essa mesma experiência em 2028. Certamente Big Macs, batatas fritas e Cheetos. Apesar de que, em uma época com o cardápio provavelmente variando entre pílulas e espumas vermelhas, verdes e azuis, dois hambúrgueres, alface, queijo e molho especial até que não serão de todo mal.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Fool's Day

O 1º de abril é uma data divertidíssima para a imprensa internacional. Nesse dia, os jornalistas colocam a massa cinzenta para funcionar inventando matérias falsas hilárias, que são publicadas como se fossem verdadeiras.

Vejam só o naipe das matérias. Na Austrália, uma rádio divulgou que em sua visita ao país, o Papa Bento 16 iria rezar uma missa só para homossexuais. Imaginem o papa mais linha dura dos últimos séculos com o seu sapatinho vermelho, uma estola arco-íris e o coro entoando hits da Madonna. Yeah, right.

Na mesma linha, um tablóide inglês resolveu sacanear o presidente francês e informou em primeira mão que ele iria passar por uma cirurgia nos ossos para crescer 12 centímetros e ficar literalmente à altura de sua top-mulher, Carla Bruni. Já no tradicional jornal “Guardian”, deu que o mesmo mulherão, assunto favorito da europeuzada acostumada a primeiras damas sem tanto charme, havia recebido uma oferta de trabalho do premiê britânico para ficar por lá e embelezar o Reino Unido.

Como se pode perceber, a galera das redações pelo mundo afora morreu de rir com as suas criações no chamado Fool’s Day. Teve até pingüim voador na BBC e empresário em complô com o Google, anunciando, vejam só, uma joint venture para colonizar o planetinha vermelho e despejar humanos-marcianos pelo universo.

Enquanto lia sobre as maluquices acima no jornal, me peguei pensando sobre como seria divertido se a imprensa nacional também aderisse à moda mundial e divulgasse matérias estapafúrdias no dia da mentira. Foi quando prestei atenção nas reportagens do dia sobre o país:

“Congresso Nacional ou câmara de gás? Gás misterioso intoxica funcionários e provoca evacuação de emergência em Brasília”

“Obra fura-fila de 800 toneladas e medindo meio quarteirão desequilibra e tomba sobre viaduto”

“Governador que quer ser vice-presidente “confunde as bolas” e chama ministra de presidente na frente do verdadeiro presidente”

Compreendi, então, o porquê de os jornalistas tupiniquins não se empolgarem com a invenção de matérias tresloucadas no 1º de abril. Fool’s Day ou não, notícia no Brasil é sempre uma piada mesmo.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Intrépido Ceguinho

Dia desses vi no jornal que um cego caminhava tranquilamente pelo centro de sua cidade quando um moleque, já nem tão jovem assim, deu-lhe um belo esbarrão e roubou-lhe o celular. Até aí, nada de interessante, uma vez que isso deve ser uma das coisas mais comuns do mundo nesse país de mer...cados organizados, policiados e cidadãos satisfeitos e protegidos. A parte boa da história vem depois.

Pois bem, o cego, indignado com o furto, aplicou um golpe de braço no desavisado larápio e começou a clamar pela polícia a plenos pulmões. A essa altura, o desconcertado gatuno começou a espernear e a debater-se, mas não foi páreo para o destemido ceguinho que o manteve imobilizado por, pasmem, cinco minutos, até que os agilíssimos homens da lei chegassem ao local.

Uma vez entregue das garras do ceguinho para as garras da lei, o marginal cara-de-pau negou o crime, alegando não saber de celular algum.


Toda a trupe reunida na delegacia, furdunço instalado, palavra de cego contra palavra de malandro, eis que se ouve ao fundo uma música de caminhão de gás. O meu não é, o meu também não... Era o celular do cego que parecia tocar do além. Para azar do ladrãozinho, o cego era popular e recebeu uma ligação bem a tempo de descobrirem que o volume em suas calças não era talento natural, mas sim o aparelho do coitado.

Pego com o celular na botija e impossibilitado de negar o crime depois desse papelão, o marginal foi encaminhado à detenção, de onde não sairá por algum tempo.

Confesso que quase tenho pena desse coitado. Eu disse quase. Imagine o que o idiota não vai sofrer quando os presos hard core descobrirem que o bestalhão tentou roubar de um cego, foi rendido por ele, escondeu o celular na cueca e desmascarado quando o bendito tocou em plena delegacia. Aqui se faz, aqui se paga. E rápido.

Pois que lhe sirva de lição e que se lembre de alguns ensinamentos importantes nas próximas vezes em que pensar em molestar um deficiente visual:

1. Cegos também são apegados aos seus pertences. Se você tentar roubá-los eles tentarão reagir.
2. Ceguinhos também lutam Kung Fu e sabem técnicas de defesa pessoal.
3. Celular de cego não é mudo. Antes de escondê-lo na cueca, coloque-o no vibrador.