quarta-feira, 30 de julho de 2008

Escatologias

E a gente que pensa que já passou por saias justas nessa vida. Hoje eu descobri que as coisas podem ser sempre muito piores.

Pois bem, aniversário de uma amiga em plena segundona. Todo mundo em volta da mesa falando sobre amenidades quando o assunto se enveredou por uma seara, digamos... Marrom.

Duas figuras que estavam por lá resolveram compartilhar com os amiguinhos as suas histórias de embaraços escatológicos, com direito a todos os detalhes sórdidos possíveis. Eu, depois de quase ca...ir de tanto rir, me sinto no dever de compartilhá-los com vocês. Aviso desde já que se trata de histórias reais, apenas com o palavreado dos relatos aliviado, uma vez que em uma mesa regada a cerveja e whisky as histórias foram obviamente contadas com mais carga nas tintas. Os santos responsáveis pelos milagres serão mantidos eternamente em segredo. Nem adianta perguntar.

Primeiro relato, o piloto da série. Cenário: Parque Portugal, vulgo Lagoa do Taquaral em Campinas. Estava o Santo 01 a caminhar tranquilamente pelo calçadão quando sentiu uma familiar pontada, chamada carinhosamente por ele de “bicada do urubu”. Tentou evitar o desastre com passinhos miúdos e contração das nádegas, mas as pontadas triunfaram e, na falta de lugar melhor, aliviou-se como pôde em um terreno baldio no meio da avenida. Com a cueca, o derriere e as pernas completamente sujos, não teve dúvidas: limpou-se com a bermuda que ficou imprestável e, completamente nu, saiu em disparada em direção ao banheiro do parque. Correu uns bons quarteirões escandalizando senhorinhas e crianças inocentes até atingir o seu destino final. Lá ficou, sendo resgatado pelo cunhado algumas horas depois.

Encorajado pela sinceridade do Santo 01, o Santo 02 decidiu então compartilhar uma de suas histórias. Cenário: cometão em uma viagem Sampa-Campinas em dia de engarrafamento na marginal. Estava ele dentro do ônibus incomodadíssimo com a demora para chegar à estrada quando as pontadas começaram. Segura que segura que segura até que entraram finalmente na rodovia. Talvez dê para esperar, pensou. Não deu. No desespero e sem opções, abriu a janela, posicionou-se ventilando a buzanfa e mandou ver. Tomara que o motorista não olhe pelo retrovisor...pensava, enquanto premiava asfalto e algum veículo azarado que passasse por ali. Imaginem a cena: pára-brisas carimbado e o motorista atordoado imaginando o tamanho do pombo que fez aquele estrago...

De volta ao Santo 01 - agora totalmente desinibido - mais um relato para o nosso deleite. O cenário seria também um cometão. Aparentemente esses ônibus têm um efeito devastador sobre a flora intestinal de determinadas pessoas. História parecida, desfecho mais assustador. OK, marginal lotada, demora, bicadas do urubu, vontade incontrolável. Solução: abriu alguns formulários de pedidos que tinha em sua pasta de trabalho, agachou-se entre os últimos bancos e relaxou, o cheiro insuportável invadindo o ônibus e começando a despertar as pessoas lá da frente. Terminado o serviço, resolveu o espertão arremessar a obra para fora do ônibus. Com o embrulho na mão, abriu a janela e... Surpresa, a ventania que entrou jogou o pacote novamente para dentro, espalhando dejetos para todo lado. Merda ao vento, pura e literal.

À essa altura todos na mesa haviam obviamente parado de comer, de falar e de fazer qualquer outra coisa que não fosse gargalhar e beber. Inacreditáveis essas situações. E houve outras, houve de tudo na verdade, com direito a esparramar cocô pelo papel de parede chiquérrimo de uma clínica de estética, valer-se de um copo de milk-shake do Bob’s para aliviar-se dentro do ônibus, parar o carro com o farol aceso e a porta aberta no meio da rua para correr e fazer a coisa no terreno baldio em frente a uma platéia nas sacadas do prédio da frente... E ser aplaudido de pé.

Eu ouvia a tudo e agradecia todo o tempo por não ter esse tipo de problema. É muito constrangimento, gente, Deus me livre.

Eles, porém, parecem ter se acostumado com o risco e, pela tranqüilidade com que falaram do assunto, abstraíram desses pudores sociais. Cocô é cocô, todo o mundo faz, a maioria no banheiro, alguns em lugares mais inusitados. Quem nunca sentiu a tal bicada do urubu que atire a primeira pedra.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Corujices

A minha sobrinha vai ser uma figura.

Essa pequena teve o seu aniversário de um mês, no bar. Sim, no bar. A piquita nem abria os olhinhos direito e já estava na balada.

De todos os mordedores disponíveis, a gorducha resolveu coçar os seus dentinhos nascentes (quatro, tadinha) justamente com o mexedor de drink da Bacardi. Adora. Segura no morceguinho e vai firme e forte passando o plástico ondulado pela gengiva rosinha.

Água a mocinha toma no copo de tequila escrito Smirnoff. “Para ir acostumando”, diz a minha irmã para as visitas enquanto fala para ela "bebe, Lalá, bebe". Que dúvida.

O aniversário de um ano do pacotinho vai ser, obviamente, no bar. Nada de buffet com piscina de bolinhas, fliperama japonês ou videokê. O DJ vai tocar Baby Hits enquanto a criançada corre pelo palco da banda e os adultos tomam whisky e comem pizza de filet com cheddar. Na mamadeira, por enquanto, só leite.

[...]

Ela ri. Mesmo doentinha, ela ri. E cresce e aprende coisas de um segundo para o outro de uma forma inacreditável. Acompanhar e participar do processo e das descobertas de uma criança te toca de um jeito que não se explica. Quem passou por isso sabe do que eu estou falando.

Hoje ela descobriu a acelga, o jogo americano e os “dadás”.

A acelga: pegou um pedacinho do talo branco e colocou no canto da boca. Nós rimos, ela percebeu. Lá ficou a acelga, parada no cantinho da boca que não parava de sorrir. Olhava para um, fazia charme para outro, se divertindo com o gosto do novo e com o efeito daquele gesto nos adultos ao seu redor. Ela só tirou o talinho de lá quando viu a papinha. Puxou a tia, bom garfo a pequena.

O jogo americano: ela sempre gostou de brincar com ele. É de bambu, duro, bom para bater o chocalho e as mãozinhas para fazer barulho. Hoje ela descobriu que ele tem frestinhas por onde se vê o outro lado. Haja charme dessa gostosura olhando para os quatro patetas babões por trás dos bambus, rindo e brincando de esconder. Levantava e abaixava os olhinhos e dava gritinhos e falava coisas, até que no meio da brincadeira apareceram...

Os “dadás”. Pela primeira vez a conversa entre nós foi de mão dupla. Ela sempre foi falante, mas com as coisinhas dela, sons desconectados dos nossos. Hoje ela respondeu aos nossos “dadás”. Estabeleceu-se a comunicação. Nosso primeiro bate-papo de família, os cinco trocando idéias na língua dos bebês.

Eu não achei que fosse ser tão coruja, confesso. Mas eu também não sabia que a minha piquita seria a coisa mais linda do mundo. Amanhã tem mais folia, e conversa. Me segura quando ela disser titia.

sábado, 26 de julho de 2008

Supimpa

Não tem nada melhor para animar uma balada furada do que amigos bêbados. A verdade é que eu me acostumei há muito tempo a me divertir horrores completamente sóbria no meio dos mamados. Sou realmente boa nisso. Eles vão bebendo, bebendo, falando besteiras, tombando, e eu ali, inteirona, só dando corda e lembrando de tudo no dia seguinte. Adoro.

Pois bem, balada trash, lugar estranho, pessoas estranhas, DJ horrível, putz bombando e nós lá, feito uma rodinha de ETs. Virei para o lado e disse: uma sakerinha, quinze minutos, f – o - i: fui.

Acontece que, apesar da altura do som, conseguimos engatar em um papo trés interessante e fui ficando, ficando. A natureza da conversa mudando à medida que os copos vazios se acumulavam na mesinha de apoio.

Lá pelas tantas inventou-se, sei lá o porquê, de ressuscitar gírias passadinhas, daquelas que eram maneiras na época em que dizer “maneiro” era in.

Biruta. A primeira, lama inaugural. “Meu, eu tô ficando biruta com essa bebida. Maneiro.”

Pronto. Tudo agora era biruta. Ou maneiro. Ou supimpa.

Até que a pérola da noite surgiu, inesperada, no meio da pista:

“Meu, bem que o DJ podia tocar uma música eletrizante agora.”

Eletrizante. Fala sério. Eu não ouvia essa palavra em... Sei lá, trinta e dois anos? Eletrizante só existe no Aurélio e olhe lá. Deve até ter uma ressalva avisando que a palavra tem efeitos desastrosos sobre a popularidade de quem ousar utilizá-la. Só pode.

Caímos de rir.

Sei que a bebedeira e as gírias iradas animaram a noite e transformaram uma roubada no maior auê. Voltei para casa quase de manhã, RG no bolso e amigos com uma ressaca federal curada à base de coca-cola e churrasco no dia seguinte. Acho que era exatamente o que eu estava precisando. Diversão brainless e hilária, levemente regada a sakerinha e toques de nostalgia.

X

Ontem estreou o filme do Arquivo X.

Ãh? Arquivo X? E...? OK, eu entendo.

Pois por incrível que pareça isso faz diferença para mim. Sim, eu assistia Arquivo X. Não perdia um. Acompanhei desde o começo a saga dos dois agentes, lia livrinhos, reportagens. Sabia toda a mitologia do babado (é assim que chamavam a linha condutora central do programa - mitologia, não babado): óleo negro, chips implantados, abduções, experiências alienígenas, o sindicato, o canceroso. Mulder e Scully. Eles eram os caras.

Apesar de eu realmente gostar dessa história toda, preciso confessar que depois de um tempo a série começou a me interessar mais pela possibilidade de romance entre os dois do que pela tal mitologia. OK, eu provavelmente vou ser trucidada e receber ameaças de morte por dizer isso (os excers – nome dos nerds freeks que são fanáticos pelo negócio – costumam ser bem radicais quanto a esse assunto) mas é a verdade. Fazer o quê? Chegou uma hora que tinha tanta tensão sexual no ar que ficava difícil de ver o resto.

Eu torcia alucinadamente pela consumação do ato. Um beijo. Era tudo que os malucos como eu queriam ver na telinha naquela época. Havia até um nome especial para os doidos que torciam pela relação, os shipers. As brigas eram homéricas. Shipers diziam que tinha mesmo é que rolar e non-shipers ficavam loucos dizendo que Arquivo-X não era Melrose Place. Fanáticos do caramba. Essa discussão rendia horas de fervo na sala de bate-papo de seriados na UOL. Adolescência é mesmo uma piada de mau gosto.

Fato é que depois de muito rame-rame rolou a relação. Metso-metso, meio velada, como, aliás, tudo em Arquivo X. Mostra mas não mostra, é mas não é.

Quando o Mulder caiu fora eu comecei a me desinteressar. Passei a assistir cada vez menos, menos, até parar. Por incrível que pareça eu não vi o fim de Arquivo X. Sou mesmo uma fã desnaturada.

Esses dias peguei os DVDs para fazer a lição de casa e assistir ao filme por dentro das histórias. Comecei pelo episódio piloto. Há-há. Legal pela sensação de rever os caras, de ouvir a musiquinha que eu a-do-ro, mas tenho que admitir: meio tosquinho. Ô dó.

Semana que vem vou ver o filme. Eles devem estar bonitões, com cabelos novos e calças que não vêm até o pescoço. Espero que estejam juntos. O tempo passa, passa, mas algumas coisas não mudam. Continuo shiper e a musiquinha continua ótima.

terça-feira, 22 de julho de 2008

A Faxineira

Outro dia ouvi de uma amiga uma história que, sem aumentar ou inventar nada, daria uma peça de tombar de rir. Personagem central: uma faxineira. Até aí, lugar comum. A maioria das peças estilinho trairecoçar têm uma faxineira, empregada ou coisa do gênero fazendo e falando besteiras para garantir as risadas do público.

Tá. Batido. A questão é que essa história é real. A tal faxineira trabalha em um dos mais famosos teatros de São Paulo há eras. Não sei o nome da fulana mas isso também não vem ao caso. A tal moça adora arrumar tudo, tem prazer mesmo. O problema é que ela gosta de ter esse prazer junto com um outro: entortar o caneco. Pois é, ela adora deixar tudo um brinco enquanto molha o bico. Tudo mesmo, coxias e camarins inclusive.

Acreditem ou não, a funcionária dedicada, para não deixar nada fora do lugar, arruma o backstage todas as noites... Durante os espetáculos. Sabem aqueles objetos de cena que os atores utilizam ao longo da peça, que são estrategicamente deixados em locais de fácil acesso para agilizar a sua localização e colocação? Surprise: ela os recolhe, organiza, guarda e ainda tira o pó. Tudo durante a peça. Uma fofa.

Atores de primeira viagem por lá ficam transtornados ao perceberem que os óculos, casacos, espadas, máscaras, cuecas, perucas, maçãs do amor e demais apetrechos que seriam necessários para o desenrolar do espetáculo repentinamente desaparecem das coxias, restando aos coitados seguirem com a peça do jeito de der, sem óculos, casacos, espadas ou cuecas, dependendo do caso. Já os mais escolados, que seguem por lá em temporada, acostumam-se à maníaca das coxias e passam a deixar seus apetrechos cênicos em esconderijos secretos, ou simplesmente aprendem a divertir-se com a possibilidade do inesperado e com a improvisação necessária para seguir adiante.

Mas a tal não pára por aí. Que nada. Uma vez satisfeita com a “arrumação” dos bastidores, a moça que a-do-ra teatro se instala na platéia para curtir o espetáculo. A peça pode estar em cartaz há um dia ou há seis meses que a fulana se senta, acompanha interessada, gargalha loucamente das mesmas piadas noite após noite e, pasmem, interage com os atores. Sim, a cereja do sundae é a participação especialíssima da faxineira mamada nas peças que se aventuram por lá.

A fulana faz perguntas e comentários, por vezes da sua cadeira, por vezes em pé, em momentos de maior exaltação. Uma fofa pró-ativa e participativa.

Aventura total. Como se já não bastassem todos os imprevistos naturais do teatro, a galera ainda tem que lidar com um mico em forma de faxineira que, ainda que com a melhor das intenções, boicota diariamente as peças que estão em cartaz.

Existem histórias que se fossem inventadas não seriam tão boas. Existem pessoas que já nascem mais personagens do que qualquer personagem que se imagine. Só rindo.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Lua

Cheguei em casa, a lua estava linda.
Alta, falante lá fora, luz de um holofote no meio do céu.
Eu, aquela lua, ninguém para compartilhar.
Só. Já deu.
Lição aprendida, tarefa feita. Alma renovada.
Cansei de só ser.
Não é sozinha que se vê uma lua dessas. Ela merece mais.
Olho no olho, rosto colado, cobertor em volta dos ombros sobre a pele arrepiada de frio e calor.
Eu tenho saudade das coisas que eu não sinto mais.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O Sofá

Estava no meu passeio matinal com o pequeno quando vi, do outro lado da rua, uma família inteira a correr pela outra calçada. Pai, mãe, filho adolescente e duas menininhas saíram em disparada. Sumiram.

Que pressa é essa? Pensei. Plena quarta-feira de manhã e o povo nesse agito? OK, algo acontece. Abstraí e continuei a minha caminhada de poste em poste quando, lá pelas tantas, reapareceu a tal família, agora em dois blocos, carregando um sofá. Sim, um sofá. Enorme, azul, três ou quatro rasgos consideráveis.

Os pais e o filho levavam, com muito esforço, a base. As filhinhas, atrás, se matavam para carregar o que parecia ser o encosto. Elas eram realmente crianças, uns 6 e 8 anos talvez, piquitas mesmo. Judiação. Três passinhos, pararam, a mais velha fez um gesto para a pequena se afastar, tentou levantar sozinha o encosto, dois passinhos, chão de novo. OK, juntas, mais três passinhos e assim foram.

Eu estava atravessando a rua para ajudar quando o filho mais velho voltou, colocou o pedaço de móvel nas costas e saiu, seguido pelas piquitas. Entrou em uma casinha simples, bem simples, espremida em uma tripa de terreno que fica entre o meu prédio e uma loja de postes que ainda não abriu.

Parei e fiquei só observando a movimentação. Entraram com o sofá, o filho entrou com o encosto, as filhinhas fecharam o portão e saíram correndo pelo jardim, a menor saltando nas costas da outra que ria alto, gostoso. Pulavam de alegria, sumiram dentro da casa. Sorri um riso triste, meio engasgado, e segui o passeio matutando sobre as diferenças de valor atribuído às coisas pelas pessoas. Aquele sofá, que provavelmente foi jogado fora por alguém, fará definitivamente muita diferença por ali.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Basquete

Eu só queria jogar basquete. Falamos de ir ao bar, de carteado, de filmes alternativos... Eu só queria a bola, o aro, meus tênis e um refletor aceso. Fui.

Peguei a bola no fundo do armário, vesti a fantasia de atleta e parti rumo à quadra mais próxima. Eram oito da noite e eu sabia que não haveria ninguém com quem jogar, não me importava. Eu e a bola seríamos suficientes.

Seis caras treinavam na quadra 1, a única iluminada, me restando a quadra central à meia luz. Fazer o quê? Eu tinha mesmo um carinho especial por aquela quadra.

Comecei a bater a bola, a me acostumar novamente com o seu peso, antes tão familiar, procurei a linha de lance livre e fiz umas firulas meio toscas pela falta de prática. Olhei para o aro e uma série de lembranças vieram me fazer companhia. Eu sorria sem perceber.

Aquela quadra havia sido o palco de um dos meus melhores momentos da faculdade. Primeiro ano, final das Calouríadas. Nunca o Instituto de Economia havia chegado a uma final do basquete feminino. Estávamos lá. Adversário: Educação Física. O entorno da quadra estava lotado, os veteranos adoraram a ida inesperada à final e foram em peso prestigiar, torcer, beber e provocar o povo da FEF. O dia era de festa.

Elas eram as favoritas absolutas, tinham um time completo com reservas, conheciam as regras, jogavam mesmo. Elas eram da FEF, caramba. Nós, por outro lado, estudávamos curvas, gráficos e comportamento maximizador e ainda por cima, éramos um time de dois, duas. Duas Julianas, uma Hilal, outra Bruns. E só. Não tínhamos reservas e o resto do time fazia número para não perdermos por WO. Ninguém, nem a minha mãe, botava uma fé na gente. Até o jogo começar.

Modéstia à parte, arrasamos no dois contra cinco. Jogamos como loucas a ponto de equilibrarmos a partida até o último quarto. A torcida se acumulava e gritava, a Unicamp parou naquele momento para ver o resultado do jogo. OK, talvez eu esteja exagerando um pouco mas é assim que eu me lembro daquele final. E que final.

Último quarto, três segundos para o fim da partida, a FEF ganhava por dois pontos, posse de bola nossa. Recebi a bola na linha dos três pontos, lateral direita, marcada... Arremessei. O apito do juiz ressoou assim que a bola saiu das minhas mãos. Ela subiu e desceu em câmera lenta, a torcida congelou, silêncio... A bola caiu de chuá e ouvimos o barulho da rede balançando. A torcida ensandecida começou gritar e a invadir a quadra. Eu fui abraçada por mais pessoas do que consigo me lembrar, fui levantada, jogada para cima, eu virei uma popstar.

No instituto naquela tarde, naquela semana, só se falava daquilo. Eu virei a bixete mais conhecida da Economia. Professores doutores me cumprimentavam, os veteranos gritavam o meu nome, ganhei presentes na cantina. Que dia.

Seguimos, eu e Ju, defendendo a Economia pelos quatro anos seguintes. Fomos a quatro finais de Intercursos, uma contra a FEF, três contra nossas arquiinimigas da Medicina. Perdemos todas, mas não fizemos feio, afinal éramos sempre duas contra cinco e só isso já valia a peleja. Bons tempos. Saudosos. Na seleção da Unicamp nós e todas as nossas arquiinimigas nos reuníamos para enfrentar outras cidades, outras arquiinimigas. Que time. Mas isso já é outra história...

Me bateu mesmo uma saudade boa enquanto eu estava lá, arremessando sozinha às nove horas da noite de uma terça-feira qualquer, no mesmo lugar onde tanto já havia acontecido. Voltei para casa leve, renovada e até um pouco dolorida (um bônus). Preciso visitar mais vezes aquele lugar, as energias são boas, de um tempo onde tudo era simples e os sonhos eram muitos, possíveis. Preciso encontrar mais vezes aquela Juliana e não pensar em nada que não envolva um aro, uma rede e uma bola viajando pelo ar.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Curso de Madrinha

Você vai ser madrinha da Lalá!”

Pirei. Fiquei feliz como há muito não ficava e saí beijando todo mundo, principalmente a pequena. É claro que eu tinha a esperança de ser a madrinha, é natural, única irmã da mãe, mais velha, apaixonada pelo pacotinho de gostosura... Mas daí a ter a certeza e a ouvir isso dos pais da criança, big diference.

Só tem uma coisa: precisa fazer o curso de madrinha sábado à tarde lá na igreja grande, na curva indo para o shopping. Não esquece!

É minha irmã, gente. Ela sabe que a chance de eu esquecer do tal curso seria imensa. Talvez por isso, ela, meu cunhado, meu pai, minha mãe e o Marco (tá, vocês não conhecem o Marco mas isso não faz diferença) tenham me ligado, mandado e-mails e deixado bilhetes na minha mesa durante a semana passada. Sábias manobras.

Funcionaram. Três horas da tarde em ponto lá estava yo, na nave da tal igreja grande-na-curva-indo-para-o-shopping. Eis que chegam minha irmã e meu cunhado. Isso não vai prestar, pensei.
Eu e a minha irmã temos um longo histórico de ataques de riso em situações envolvendo igrejas em geral. Anos e anos estudando em colégio Salesiano e indo à missa arrastadas nos transformaram em experts em nos divertirmos nessas situações.

O “curso” começou com a apresentação dos “professores”.

Casal número 1: Eu sou fulano (um tiozinho de cabelo branco, camisa jeans e voz rouca baixinha), casado há 32 dúzias de anos com a ciclana aqui (típica carola atarracada com cara de quem comeu e não gostou nada, metro e meio, óculos, olhar ameaçador), temos 3 filhos e fomos abençoados com 2 netos e mais um a caminho.

Casal número 2: eu sou beltrana (tiazinha com cara de gente boa, voz forte, articulada, OK), casada há 25 anos com o fulano aqui (tiozinho que eu juro que era uma mistura de Paulo Henrique Amorim, Sérgio Chapelen e William Bonner em iguais proporções, simpático, OK)
, temos dois filhos e estamos aqui para dar o curso hoje para vocês.

Dã. Jura?

Antes de começar, vamos orar”.

Pai nosso. Ave Maria. Uma oração que eu e noventa por cento da tchurma nunca tínhamos ouvido na vida. Musiquinha para Nossa Senhora. Sentamos.

A essa altura eu e a minha irmã já tínhamos munição para uns vinte minutos de piadas. Começou então o tiozinho de voz fraca do casal 1 falando sobre... Coisas úteis a uma madrinha, úteis na vida moderna, úteis na educação e formação do caráter de uma criança???? Nããããão. Falando sobre o Genesis. Sim, “e Deus disse, faça-se a luz” e por aí vai. Nããããão disse eu. Sábado à tarde, depois de ter dormido às 5 da matina e de uma feijuca, a voz do fulano parecia uma canção de ninar. O assunto era tão boring que nem potencial para piada tinha. Meu cunhado jogava Tetris e nós duas, mais metade da galera, estávamos quase dormindo quando, inesperadamente, a super carola entrou em ação.

A mulher saltou da cadeira, pegou o crucifixo e começou a falar com tanta pilha que só se ouvia o barulho da tchurma se levantando nas cadeiras para prestar atenção naquela pessoinha bizarra. Ela levantava a cruz, andava pela sala e gritava: “Olhem só, ele morreu por nós assim [abria os braços] e o que nós fazemos em troca? Vocês pensam nisso? Ele morreu assim [abria os braços de novo], assim [e de novo], e vocês? Vocês morreriam assim [de novo] por alguém? Por um desconhecido? Assim [de novo]?”.

Não sei bem como, lá pelas tantas, a mulher começou a falar sobre o aborto.

A criança? A criança é a manifestação da semente divina doada pelo pai à mãe. A faísca divina sai de lá [gestos ilustrativos] e tchuuum, é colocada na mãe para a geração do milagre.”

Aquele “tchuuuum” imediatamente virou um hit. Tudo agora era tchuuuum. A mulher era uma caricatura. E continuou.

Porque a pessoa que faz um aborto, que mata o seu próprio filho, vai direto para o tacho de fogo que é o inferno. Nossa Senhora de Lourdes [levantava o folheto ilustrativo], de Guadalupe [folheto ilustrativo], de Fátima [folheto ilustrativo] e muitas outras [!!!] nos mostraram que o inferno é isso mesmo, um imenso tacho de fogo, terrível, onde as pessoas são jogadas pela eternidade. Vocês querem isso para a eternidade de vocês?

Àquela altura a galera estava pirando. A mulher era uma alucinada, falava alto andando pela sala tentando assustar as pessoas com a sua história do tacho de fogo. Crianças choravam, alguns tinham os olhos arregalados, a maioria ria. Eu e minha irmã gargalhávamos quando ouvimos:

Eu estava me segurando mas não dá mais, é um absurdo a senhora falar assim. O inferno não é um tacho de fogo, é a ausência de Deus.”

Uma loira no canto da sala iniciou a discussão, o marido do lado, da cor de um tomate, se encolhendo na cadeira.

Sei que aquele debate sobre o tacho de fogo esquentou de um jeito que lá pelas tantas as duas estavam discutindo exorcismo, as habilidades voadoras de satã e a veracidade das imagens mostradas pelas virgens, com direito aos tais folhetos ilustrativos.

Eu devia ter trazido a pipoca.” Pérola da minha irmã.

Intervalo. Chá com bolachas, café. Muito café. Round two.

Voltamos animados pela adrenalina do round one. Naquele ritmo, teríamos até o fim da tarde alguma luta corporal na sacristia. A expectativa era geral.

Para nossa decepção, o casal 1 saiu de cena dando lugar ao casal 2, ponderado, falando coisas com nexo... Droga, dali não sairia nenhum barraco religioso.

Entre uma piada e outra chegamos mesmo a prestar atenção nos assuntos tratados. Falaram de coisas como os fundamentos do batismo, as obrigações dos padrinhos, dos pais.

Foi então que descobrimos que os padrinhos de uma criança devem ser preferencialmente casados, freqüentadores da igreja e que são os responsáveis pelo desenvolvimento da fé da criança. Olhei para a minha irmã, ela olhou para mim. Gargalhadas. Eu estava a anos luz da madrinha perfeita, ao menos de acordo com os padrões da igreja católica.

Nem confiança para esses carolas. Felizmente sabemos que o papel de uma madrinha vai muito além dessa bitola e inclui estar presente, dar amor, carinho, segurança, ensinar o respeito, a responsabilidade e a alegria de viver, além de dar presentes maneiros, lógico, e para essas tarefas eu estou perfeitamente habilitada. E ansiosa.

No fim das contas, demos umas boas risadas, conhecemos algumas pessoas malucas, comemos bolachas de maisena e aprendemos quase nada. Para mim, uma única lição: devo segurar a cabeça da pequena com o braço esquerdo na hora do batismo. Já valeu o curso.

domingo, 6 de julho de 2008

O Mala da Leroy

Leroy Merlin, nove e quarenta da noite. Eu passeava tranquilamente pelo corredor central à procura de cadeiras de piscina quando um homem, marmanjo já, praticamente um senhor, começou a esbravejar chamando por um atendente.

- Onde está o vendedor para me atender aqui nas telas? Será possível?

O funcionário que estava por perto respondeu tranqüilo, apesar da grosseria do cara, dizendo que o vendedor da área já iria atendê-lo.

O mala continuou, abusando dos decibéis.

- Que porcaria é essa? Faz um tempão que estamos aqui esperando e não vem ninguém atender. Onde já se viu?

Réplica do funcionário em tom comedido.

- O senhor tentou chamar o atendente no corredor da frente?

Tréplica mal educada do mala.

- Não tentei, não. Por quê? Se eu estou aqui na seção dele ele tem que me atender, não é?

Resposta do funcionário azarado com uma paciência pau a pau com a de Jó.

- Senhor, é possível que ele não o tenha visto.

E a grosseria continuou.

- Não, não é possível. Que espelunca é essa em que você espera dez minutos pelo vendedor? É só faltar meia hora para a loja fechar que os funcionários somem.

- Se o senhor quiser registrar uma reclamação é só procurar o gerente na frente da loja.


A essa altura o esquentadinho, que já estava super em cima das tamancas, lustrou a ferradura e mordeu a chumbada, tudo ao mesmo tempo. Disse então aos brados, indo para cima do coitado do funcionário:

- Você vai discutir comigo agora, rapaz? Ein? Você gosta do seu emprego? Qual é o seu nome? Você vai ver a minha reclamação...

Vendo o caldo entornar feio, o funcionário virou as costas e se mandou, quase correndo, para o fundo da loja. Esperto.

Eu, que assisti a tudo do meio do ringue fui passando como se nada acontecesse. Não consegui, porém, disfarçar a minha cara de “se manca grosso, prá quê isso tudo? Se a sua mulher não quer nada com você há meses, vai pescar, praticar boxe tailandês ou xingar a sua mãe, não fazer furdunço aqui”. Sim, a minha cara dizia exatamente tudo isso.

Como o mala era mesmo um grosso de marca maior e não parecia ter freios ou qualquer educação, resolvi apressar o passo e cair fora antes que ele resolvesse implicar comigo por estar respirando perto dele. Não duvido nada que aquele cara batesse em uma mulher e no seu cachorrinho. Era na verdade a cara dele fazer isso.

E não pensem que se tratava de um tipo humilde, sem instrução, sem recursos e com todos os motivos para chutar a sombra. Nada disso. O cara era bem vestido, bem calçado, bem penteado e com uma mulher acoplada que gritava banho de loja e salão de beleza. Talvez por isso mesmo a atitude de rei da cocada roxa.

Fala sério, para quê? Bastava ter pedido educadamente como um ser humano normal. O funcionário estava lá, à disposição, pronto para servir à Sua Majestade o Rei Mala. Tem gente nesse mundo que gosta mesmo é de arrumar encrenca, o tempo todo, custe o que custar.

Não entendo, nunca entendi e nunca vou entender.

Pessoas cabecinha em geral agem assim e vejam no que deu: caos generalizado em progressão geométrica. O mundo seria um lugar muito mais agradável se esses figuras tomassem florais, fizessem yoga e virassem gente. Paciência, meu povo. Tolerância é a palavra da vez e faz uma diferença...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Insônia

Eu com problemas de insônia. Há, essa é boa.

Eu. Justo eu que durmo antes de encostar a cabeça no travesseiro? Justo eu que durmo sentada, deitada, plantando bananeira, assistindo filme, assistindo Lost, no telefone, no meio de Imagem e Ação? No way. Deve ser o fim dos tempos, o sinal do Armagedom.

Dois dias seguidos: deito, rolo, viro... Nada. O sono não vem. Mentira, na verdade o sono até está lá, mas acaba perdendo a parada para os meus pensamentos. Fico pensando, pensando, e penso que preciso parar de pensar para dormir mas não quero. Os pensamentos são bons, não quero parar. Então sigo pensando noite adentro, rolo, viro, imagino. Até não poder mais.

Acordo então no dia seguinte, luz refletida no teto do quarto. Quando foi que eu dormi? Não consigo me lembrar, mas lembro do antes, dos pensamentos, e sigo na cama, pensando. Preciso parar de pensar. Preciso dormir. E sonhar.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Vista

A minha vista muda tudo. Faz as coisas boas, melhores, as ruins, menores.

A minha vista é um grande amplificador do meu peito. O que eu sinto ressoa por ela e volta digerido, diferente.

Ela me dá parâmetros, bases de comparação, trazendo os meus sentimentos para os seus devidos lugares. A minha vista é um grande conversor, uma constante que me invade e me coloca novamente no chão.

Daqui do alto sou inacreditavelmente pequena, insignificante e ao mesmo tempo grande, gigantesca. Daqui do alto vejo tudo com uma clareza única ao passo que não vejo o detalhe de nada.

Quando estou emotiva, emociona; triste, consola; sem idéias, inspira; só, acompanha; com raiva, acalma; sem sono, embala; sem norte, guia; sem brilho, ilumina; sem mim, resgata.

A minha vista é ainda mais minha no meio da madrugada, 4 horas da manhã de qualquer quarta-feira. A rua é deserta, não há carros, barulhos, pessoas, os cães dormem, a vida dorme, os postes alaranjados iluminam o vazio. O mundo é então, meu. Como em um filme surreal, eu sou a única a vê-lo, meus pensamentos são tudo que há. E então me renovo, volto à forma, encontro a alma.

A minha vista é o meu maior tesouro que não respira.

terça-feira, 1 de julho de 2008

TV a Cabo

Caraca.

Quem diria que um dos maiores desafios do ser humano na atualidade seria... Cancelar a TV a cabo.

Isso mesmo. Não estou maluca nem tirando uma.

Acabei de passar pela experiência de cancelar a minha assinatura e preciso compartilhar isso com alguém. Sobrou, obviamente, para o blog.

Segue a transcrição do meu calvário na íntegra em versão comentada:

- Boa tarde. Por favor, eu gostaria de cancelar a TV a cabo de um dos meus pontos. Disse eu, com calma e ingenuamente acreditando que seria assim: rápido, simples e indolor.

- Cancelar? A palavra foi repetida pela atendente como se fosse um palavrão de quinta.

- Senhora, por gentileza, antes de mais nada precisarei do seu código de assinante.

Forneci o código.

- Perdão senhora, não consegui localizar o seu contrato. A senhora poderia me dizer o seu CPF?

Forneci o CPF.

- Estranho senhora, não obtive nenhum registro com o seu CPF. Nome completo, por favor.

Forneci o nome completo.

- Muito estranho mesmo, senhora. Não há nenhum registro no sistema com os seus dados. Infelizmente não poderei ajudá-la se não puder localizar o seu contrato.

Como se não bastasse a mocinha me chamar de senhora uma dúzia de vezes, ela ainda não poderia me atender???

- Me desculpe mas eu não tenho culpa se o seu sistema não localizou o meu contrato. Eu tenho três assinaturas aí com vocês e preciso cancelar uma delas. Por favor, chame o seu supervisor.

A essa altura comecei a me alterar. Comecei.

- Desculpe senhora, mas eu só posso chamar o supervisor se tiver os dados do seu contrato que infelizmente não foi localizado.

- Olha, eu... Tu, tu, tu.

Caiu a ligação. Ahã.

Desaforo. Disquei o número maldito novamente.

Dessa vez não caí na besteira de dizer que queria cancelar nada. Honestidade demais não me rendeu bons frutos da última vez.

- Senhora, por gentileza o seu código de assinante.

There we go again...

Forneci o código. Dessa vez os meus dados apareceram miraculosamente no sistema.

- Pois não senhora Juliana, em que posso ajudá-la?

- Eu gostaria de cancelar uma das minhas assinaturas, por favor.

- Cancelar? ...pausa... Pois não, senhora, eu estarei transferindo para o setor responsável.

Espera, espera, espera. Senhora o caralh... Paciência.

- Boa tarde, senhora. Em que posso ajudá-la?

Respirei fundo.

- Eu gostaria, pela terceira vez hoje, de cancelar uma de minhas assinaturas.

- Pois não, senhora. Qual seria o motivo do cancelamento?

- Eu vou me mudar e não precisarei mais da assinatura.

- Certo. Podemos então transferir a TV a cabo para o seu novo endereço.

- Não, obrigada. No meu novo endereço já existe TV a cabo.

- A senhora tem certeza?

Como assim "tenho certeza"? Que tipo de tapada ele acha que eu sou?

Easy, Juliana, easy.

- Tenho certeza sim. Obrigada.

- Nós podemos, então, suspendê-la até que o novo morador do seu endereço se mude e possa usar o serviço.

Suspiro longo, áspero, quase um palavrão.

- Olhe, eu vou entregar o apartamento e não faço idéia de quem irá morar nele depois de mim. Eu REALMENTE não tenho utilidade para essa assinatura.

- Certo, a senhora pode aguardar um minutinho por favor?

O telefone emudeceu por uma eternidade. Eu olhava para a minha mesa curva-de-rio e pensava em tudo o que eu tinha para fazer até o fim do dia. Claro que eu poderia esperar, querido, take your time.

- Só mais um minuto, senhora.

Mais um senhora para a minha já repleta coleção. How delightful.

- Olá senhora, o que podemos fazer é oferecer-lhe um desconto de 40% na mensalidade por 6 meses, assim a senhora não perderá o seu pacote e ainda pagará menos durante o período.

Ainda bem que mamãe e papai me ensinaram desde pequenininha a ser bem boazinha com os outros, senão as orelhas da mãe do brasileiro FDP do outro lado da linha sofreriam combustão espontânea naquele exato momento. Inacreditável. Quem eu teria que matar para encerrar o meu maldito ponto de TV?

- Olha moço, o que eu tenho que fazer para que você entenda que eu não quero mais a assinatura? Eu não quero desconto, não quero manter o meu pacote, não quero transferi-lo, suspendê-lo, congelá-lo ou o diabo a quatro. CANCELE. Só.

Silêncio.

- Muito bem senhora. Peço então que aguarde um minuto enquanto eu gero o protocolo do cancelamento.

OK. Algo me dizia que não seria um minuto, nem dois, nem cinco. Algo estava certo. Mais de uma dezena deles se passaram até que o mala insuportável retornou com o número do protocolo e uma má vontade infinita.

Nem confiança para ele. Eu havia vencido.

Desliguei o telefone exaurida e com um mal humor do inferno, porém com a missão cumprida.

Amanhã tenho que cancelar os celulares. Um leão por dia. A batalha será duríssima, preciso estar em forma, abastecida de uma dose bíblica de paciência e descansada.

Desejem-me sorte.