terça-feira, 7 de julho de 2009

Fila da Carta

Eu me diverti hoje no exame para renovação da carteira de motorista.

Assinei a folha, sentei no banco de espera e comecei um novo jogo de paciência spider. Ao meu redor:

- Uia quanta gente!

- E essa fila? Pra que é? Ah, sei lá. Melhor entrar na fila.

O que é isso entre brasileiro e uma fila?

- Alguém aí sabe a resposta da pergunta da bicicleta?

- Que pergunta da bicicleta????

- Aquela da distância da bicicleta.

- Distância da bicicleta????

- É, caiu na prova da minha esposa.

Alvoroço. Eu ria por dentro daquele monte de marmanjos parecendo criança em dia de chamada oral.

- Ué. Mas na Internet não tinha nada dessa coisa de bicicleta....

- Mas tinha no livrinho.

- Livrinho?

- Alguém aí sabe a resposta da bicicleta?

- Alguém aí tem o livrinho?

Surreal o povo pirando por causa da bicicleta.

Na hora de uma das figuras assinar a lista:

- Os nomes estão em ordem alfabética?

Não minha senhora. Os cento e poucos nomes estão em ordem aleatória, te vira aí.

Ôxe. Mas é claro criatura, iria estar em que ordem? De tamanho?

O papo foi nesse nível até a entrada na sala. Quarenta minutos de prazo para fazerem a prova. Eu saí com quinze e percebi que a coisa ali ia longe.

Não caiu para mim a história da bicicleta, mas só para constar, a distância lateral mínima para se ultrapassar uma bicicleta é de 1,5m. Infração média sujeita a multa e 4 pontos na carteira.

Vai dizer que não é útil fazer a tal provinha?

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Pina

De tempos em tempos aparecem pelo mundo pessoas absolutamente especiais, transformadoras, criadoras de novos paradigmas. Depois delas, nada mais é como antes.

Assim era Pina para as artes. Bailarina clássica de formação, rompeu com todas as amarras da dança para criar e mostrar o que quis, como quis. Tocava o humano, bailarino ou não, falando de corpo para corpo com movimentos e silêncios que vinham da alma, inspirados em acontecimentos e sensações. Pina encenava a vida transmutada em sonho com o corpo e a voz dos seus bailarinos e dela própria. Pina era poesia em movimento, de encher os olhos e cutucar o peito.

Dia 30 de junho ela se foi. Ida inesperada.

Fica a inspiração.

“O que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move.” (Pina Bausch, 1940-2009)



Quis

Eu quis porque quis
Saber da sua rua
Da luz na janela
Do som no seu som
Dos livros na estante
Da cor do sofá
Da letra de mão
Da foto na mesa
Do medo de mar
Do lado da cama
Da pasta de dente
Do canto no banho
Do peixe no aquário
Do gosto por sal
Do gosto por mim
Do gosto geral.

Eu quis por que quis
Saber da sua rua
Eu quis porque quis
Saber de ser tua.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Rodoviárias

- Mãe, minha mão tá doendo.

- Eu não pego nessas catracas.

- 9741-9472.


- Eu sei, meu filho, eu sei.

- Tenho nojo, vai saber.

- Anota com o DDD.


- O saco tá pesado, mãe.

- Eu também tenho nojo, passo virando a bunda.

- Liga depois das dez.


- Você agüenta, filho. Falta pouco.

- Assim?

- Depois me conta o que ele disse.


- Não vai dar, mãe. Tá doendo muito.

- É. Melhor não?

- Como assim não?


- Me ajuda filho. A gente precisa chegar em casa antes do seu pai.

- Pelo menos não dá nojinho.

- Ai se você não contar.


Mãe e filho de uns 8 anos, simples, carregando dois sacos enormes de coisas muito, muito pesadas e tentando chegar em casa antes do pai. Onde será a casa, quais serão as coisas, como será esse pai? Será que o pequeno vai conseguir carregar, será que eles vão chegar a tempo?

Dois homens estilosos, muito afeminados, passando pelas catracas com nojinho e discutindo a melhor forma de fazê-lo. Por que tanto nojo de passar nas catracas? Será que eles pensam nisso a cada catraca ultrapassada? Será que eles são gays? Há-há.

Adolescente falando alto no celular lilás sobre assunto típico da fase. O que será que ele, o assunto, vai dizer?


Situações de rodoviária cercando alguém muito, muito curiosa que pira na batatinha imaginando a continuação das histórias ao redor e não se contenta em só imaginar, e coloca no blog e se acha muito, muito doida às vezes. Quase sempre. Mas que não consegue parar de imaginar.


***


- Você pode me dar licença?

- Você faz questão de sentar aqui? Eu estou cheia de bagagens e o ônibus está vazio...

Cara de fiofó para o meu lado.

- Ah, tá. Eu sento em outro lugar mas se alguém vier falar alguma coisa vou dizer que foi você.

- Claro, pode dizer.

Dêr.

30 poltronas vagas no ônibus e a criatura queria que eu tirasse as minhas 527 bagagens do banco para se apertar do meu lado, só porque aquele numerinho constava da sua passagem.

Pode?

Não, né. Claro que não.

Tem gente que acha bonito ser mala.