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Ele.
Sentiu um latejar nas têmporas e o sangue ferver-lhe as veias. Caraca. Isso nunca havia lhe acontecido antes. Os rostos que surgiam de seus traços eram sempre desconhecidos, conjuntos de olhos, boca, nariz e pêlos que não lhe diziam nada. Até hoje. Hoje, ao olhar aquele todo, o conjunto de traços repentinamente passou a ter voz, cheiro, lugar, som.
Ele.
Poderia encerrar o caso ali, naquela sala, naquele instante. Bastaria anotar no canto da folha um endereço. Sim, isso seria o certo a fazer, o óbvio, mas estranhamente o óbvio não lhe agradava. A figura tranqüila à sua frente, aqueles olhos rabiscados no papel, o frio na boca do estômago. Alguma coisa não se encaixava naquele cenário. Além disso, a descarga de adrenalina que lhe invadiu os poros era absolutamente deliciosa e o óbvio a fazer certamente poria fim a tudo, trazendo de volta o tédio que lhe permeava os dias.
Balançou a cabeça, suspirou fundo e seus olhos se cruzaram com os da mulher que acendia outro cigarro. Familiar. A figura lhe era mesmo familiar, já vira aqueles olhos, aquela boca, aquelas formas. Ela lhe chamara atenção anteriormente, apenas não conseguia encaixá-la no ambiente a que pertencia. Observava os detalhes, seus olhos treinados de desenhista esquadrinhavam a mulher à sua frente em busca de pistas e então ela viu a pequena estrela tatuada no dorso da mão que segurava o isqueiro. Lembranças daquela mesma estrela lhe levaram ao seu elevador, mão tatuada apertando o botão do andar acima do seu.
Ela.
Agora lembrava-se bem. Haviam se cruzado duas ou três vezes entre entradas e saídas do prédio de Helena. Mas não poderia ser, ela e ele então se conheciam. E o estupro denunciado? Havia certamente mais a saber do que a mulher à sua frente escolhera dizer à polícia e Helena pretendia descobrir.
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Um comentário:
Interessante, Ju. Vamos começar a desvendar os mistérios desta história ainda hoje.
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