segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O Ogro do Banheiro

Não tem gancho para pendurar a bolsa.” Soltou fula da vida a mulher no banheiro ao lado do meu. Fula mesmo. Eu podia praticamente ver a fumaçinha negra subindo da cabeça dela por cima da divisória.

E continuou. “O que eu faço agora sem lugar para pendurar essa bolsa?” O tom de voz aumentando enquanto eu ouvia ela se mexer sem parar, super incomodada.

Eu fazia cara de ué no cubículo ao lado. Gente, pra quê tanto furdunço por tão pouco? Bota no chão, pendura no ombro, na fechadura, sei lá. Vale mencionar que o banheiro era do teatro. Estávamos de boa esperando para assistir a um show de música que prometia ser fantástico. Eu estava de boa, já a criatura...

Ela continuou bufando, até que alguém do lado de fora se ofereceu para segurar a tal bolsa e recebeu como resposta alguma coisa ininteligível, que eu interpretei como sendo “não, humpf, deixa prá lá, grrrrr, eu me viro.”

Eu só ouvindo do lado de cá, usando a minha melhor cara de credo gente, eu ein. Pelos ruídos emitidos, a dona aparentemente conseguiu vencer o desafio terrível de fazer xixi segurando a própria bolsa. Deu descarga, abriu a porta, foi lavar as patinhas.

“Não acredito. Não tem papel para enxugar a mão. Mas que droga. Viu só, é por isso que não se tem cultura nesse país. O jeito é ficar em casa assistindo TV de baixa qualidade. Humpf.”

Eu me apressei para sair a tempo de ver a cara da fulana. Não deu. A cara dela na minha cabeça teria que continuar sendo a da minha imaginação mesmo, uma dessas bem encruadas, mal humoradas, amarguradas e tudo que é ada que se possa pensar. Ôxe. O marido da criatura (se é que ele existe) já deve ter pago todos os pecados dessa e das próximas trocentas vidas.

Voltei para o teatro para ver um show incrível, delicioso, e esqueci, obviamente, do ogro do banheiro. Curti horrores o som maravilhoso, os músicos, letra, música e entrelinhas. Chorei, até. Lindo mesmo.

Eu até concordo com a fulana mauhumordoinferno que a estrutura cultural nesse país não é lá uma maravilha, mas coisas assim valem definitivamente um xixizinho sem gancho de bolsa e uma enxugada de mãos na calça jeans.

3 comentários:

Anônimo disse...

Tenho você no meu blog. Pra vir aqui todos os dias. Beijo, amore!
texticulini.wordpress.com

N. Calimeris disse...

Ué, vai ver que era daquelas que usam uma bolsa gigante para levar o mundo junto! Já viu os disparates que estão as bolsas? E olha que eu acho a minha gigante... mas, tenho que carregar cd, carteira, calcinha para eventuais situações complicadas durante a menstruação... gente, as bolsas estão virando a vida da mulher!!! Enfim, importante é que você curtiu, mas, teus textos são ótimos, Ju. Você e Tati me alegram os dias de vez em quando. bjocas

Ju Hilal disse...

Li, venha sempre querida. É uma delícia ter você por perto.
Georgiana, a bolsa dela devia ser uma mala de sacoleiro para justificar um mau humor tão grande...rs
Eu não posso falar muito porque a minha bolsa também é enorme. Menina, tem de um tudo lá dentro.
Que bom que você gostou dos textos. Obrigada. Venha sempre!
Beijão