Eu já tinha virado uma peneira com aquele tanto de agulhas penduradas pelo meu corpo quando o meu terapeuta virou e disse:
- Hoje eu vou fazer uma sangria auricular em você.
Imediatamente eu imaginei meia dúzia de sanguessugas se refastelando na minha orelhinha tão bonitinha e a idéia não me pareceu nada agradável. Contei para ele a minha visão da coisa, ele morreu de rir e disse que não tinha nada a ver.
É, eu descobri logo que realmente não tinha nada a ver, mas antes tivesse porque talvez as sanguessuguinhas fossem mais gentis e menos sanguinolentas para com a minha pessoa indefesa ali naquela maca.
Ele fez uma massagem daquelas brabas por toda a orelha, passando por uns pontos tão doloridos que quase que a honra da mãe dele entrou na roda. Depois pegou umas agulhas pequenas (não se iludam com o tamanho, elas fazem um belo estrago...) e disse que teria que tirar pelo menos 3 gotas de sangue de cada ponto. Aparentemente a minha orelha estava precisando disso há tempos e essa tal sangria iria fazer uma bela diferença na minha saúde física e mental, além de aumentar a minha imunidade.
Já no primeiro (de muitos) ponto eu percebi que a coisa ia ser sofrida. Ele picava doído várias vezes em cada lugar, depois apertava, apertava. Não desistia enquanto as três gotinhas não saíssem e eu ali, sonhando com as boas e velhas sanguessugas.
Juro que eu não estava sendo patife. A dor não era a simples dor das picadinhas, ah, quem dera... Era aquela dor medonha que só quem já fez acupuntura auricular conhece, aquela que dói na alma e que te faz xingar até a décima geração do fulano que teve a idéia brilhante de enfiar coisas nas suas pobres orelhas. Para completar, a bendita ainda vinha acompanhada de vários calafrios esquisitos que me percorriam as pernas e os braços e me faziam sentir frio em um dia absurdamente quente.
Sei que no final eu saí de lá completamente grog. Zenzinha mesmo.
Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi olhar no espelho para ver o tamanho do estrago. Qual não foi a minha surpresa quando eu vi... Nada. Não havia marca nenhuma. O moço fez aquele salseiro todo na minha orelha e não deixou traço de nada. Certeza que isso faz parte da técnica de tortura chinesa...
Apesar do sofrimento momentâneo, acho que a coisa é boa mesmo porque eu estou me sentindo ótima. Passei o dia praticamente flutuando e agora estou até me divertindo com o perrengue que eu passei na hora. Se algum maluco por terapias alternativas quiser tentar a técnica eu recomendo. Vale a pena, o depois compensa o durante e a experiência até que é interessante.
Sado-masos também vão curtir a parada. É só pedir que passo o telefone do terapeuta.
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Um comentário:
Tô de boa.
Vocês são todos malucos.
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