Hoje eu chorei pelo mundo.
Sentei e chorei por esse mundo e por tudo nele que eu não consigo entender, as luzes da cidade lá embaixo embaçando e virando rastros do que eu não sei aceitar. Tem dias em que eu só quero chorar e gritar.
Nesses dias os meus escapes habituais não me aliviam. Eu não suporto a música, eu não tenho vontade de dançar, eu passo em branco pelas linhas dos livros e a TV fica muda diante do que está na minha cabeça. Nesses dias tudo parece uma enorme brincadeira de um mau gosto, um exercício nonsense.
Nesses dias eu escrevo coisas para ninguém ler. Eu olho para o teclado a dez centímetros do meu rosto, eu ouço a minha respiração, sinto meu lábio formigar e martelo as teclas pretas sem pensar, venha o que vier.
Nesses dias eu não entendo como o mundo das flores, das crianças, dos cães, dos casais apaixonados de mãos dadas e olhos brilhando, dos idosos na varanda, do sol que brilha forte nas manhãs da minha janela, do laranja das tardes que viram noites de lua cheia, pode ser o mesmo de coisas que eu nem sei contar.
Como é que esse mundo, cheio de luz, pode ser de tanta angústia e sofrimento, de crianças judiadas, de animais maltratados, de homens olhando nos olhos os seus iguais enquanto riem e matam, de doenças de corpo e de alma, de crueldade pura, de homens sem rumo, sem essência, sem porquê, de perdidos perambulando para sobreviver, alheios ao que se passa à sua volta, guiados por aí pelos seus próprios umbigos.
Nesses dias eu choro porque entendo que, ainda que eu queira e escolha ver o mundo das flores, das crianças e dos casais de olhos brilhando, o outro, cruel, existe, se mostra e não se deixa ignorar. Nesses dias choro por querer fazer do mundo um só, o primeiro, mas por não saber direito como ou por onde começar. E há tanto por fazer...
Eu costumava acreditar que as pessoas eram essencialmente boas e que as agruras da vida acabavam por lhes transformar e distorcer a índole. Hoje não acredito mais. Hoje vejo pessoas absurdamente díspares na essência, no sentir, coisa que não se transforma ou aprende durante a vida. Coisa que se é e fim.
Há aqueles que amam somente a si, que guiam seus atos pela vida buscando seus frutos a qualquer preço. Esses não se sensibilizam por nada, são indiferentes ao sofrimento alheio e por vezes até se deliciam com ele. Há os que amam a si e aos seus, que guiam seus atos buscando o bem daqueles a quem querem bem, que se sensibilizam com a dor dos próximos e cuidam para que ela seja a menor possível.
Há, por fim, os que amam a si, aos seus e aos seres que coexistem nessa terra, independentemente de terem com eles qualquer relação emocional. Esses homens e mulheres têm o amor como guia dos seus atos e sofrem ao ver o outro sofrer, seja ele quem for. Querem o bem, fazem o bem, sacrificam-se pelo bem maior e estão fadados a jamais encontrarem a paz, por perceberem e se abalarem verdadeiramente com o sofrimento e a crueldade que existe por aí.
Esses são os homens e mulheres que melhoram o mundo, que com grandes ou pequenos atos fazem a diferença, doam-se e transformam pedaços de tristeza em pedaços do mundo de sol, crianças, cãezinhos e casais apaixonados.
Hoje eu chorei porque o mundo precisa de muitos mais desses. São raros, porém. E sós.
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6 comentários:
Sabe, meu bem, você é esse tipo de pessoa boa que melhora o mundo. Certamente sente a dor do mundo e sofre. Dói mesmo.
Mas nã deixe isso tomar conta de você não. Não deixe que o desalento ganhe terreno, olhe por cima da dor, por cima das mazelas, por cima de tudo isso. Tem gente demais nesse mundo precisando de ajuda e de luz. Seja luz porque sempre existirá as sombras mas uma pequena chama de um fósforo faz com que as trevas percam espaço. Mantenha asua luz acesa. Olhe lá pro alto, lá pro céu, naquela luz maior e fique firme.
Chore se tiver vontade, mas nã deixe que isso te pegue pelo pé.
Força!
Lindo!
Mas olhe para o Universo, para a grandeza disso tudo. Quem criou? Quem está por trás de tudo isto?
É sobrenatural.
Tati querida,
é isso que tentamos fazer todo o tempo mas em alguns dias a gente simplesmente desaba, chora, chora, chora e reflete.
Mas tudo bem porque depois enxuga o rosto e bola para frente. O mundo está aí, cheio de coisas boas e ruins e estamos por aqui para aproveitar essa vida e fazer alguma diferença, certo?
Beijos
Anônimo,
É mesmo sobrenatural.
Só pode ser, não existe outra conclusão lógica, já que o início e as razões para tudo isso jamais poderão ser entendidos, por mais que o humano se questione.
Acontece que pensar em quem criou, em quem está por trás disso tudo não me conforta. O sofrimento está aí e o que quer que seja que tenha criado esse mundo não irá interferir diretamente, mas sim por intermédio dos seres que efetivamente circulam e transformam esse plano.
Somos nós os instrumentos da mudança e vem daí a inquietação e a vontade de fazer a diferença.
Apareça sempre, seja bem vindo.
Beijo
Ah! Desculpa ler só hoje. Queria que você conhecesse meus amigos! Bom, eles não se immportam muito com o mundo como eu e você, mas, dão um aconchego que a gente sai de alma lavada. Existem tantos outros... queria que conhecesse uma amiga massagista que é só doação. Não estamos assim tão sós, apenas somos em menor número. Hoje, eu choro menos pelos miseráveis. Faço a minha parte porque é assim que é. Se eu pudesse colocava todo mundo debaixo do braço, mas, coloco aqueles que me aparecem e, eu mesma, sou um cão sarnento louca por atenção.
Ju...estava passando por aqui, li alguns textos...mas este me chamou muito a atenção!!! Talvez, porque assim como você, eu também me encontre, algumas vezes, chorando pelo mundo. Acredito que exista algo sobrenatural sim...mas a única força capaz de mudar esse lado sombrio está dentro de cada um de nós. Muitos não sabem como, ou não querem usar...talvez por egoísmo...talvez por MEDO...
Não entendo a maldade...mas sei que a única forma de nos livrar-mos dela é enfrentando-a com amor e coragem !!!
Estamos no caminho certo amiga...e quando a gente chora é porque a bondade transborda...
Beijos...se cuida
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