segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Os Prêmios

Essa curva é perigosa demais, muita gente ainda vai morrer aqui, ouviu o marido dizer na garupa da moto com mãos ao redor da sua cintura. Semanas depois, na mesma garupa, viu a morte do marido naquela curva na noite de natal.

Estavam casados havia 6 anos.

Encontrei com ela no meio do nada, num restaurantezinho isolado em uma cidade menor que cenário de novela. Ela tinha o olhar triste desde o primeiro sorriso de oi. Pudera.

Tinha acabado de chegar para ficar um tempo com a amiga de longa data, para mudar de ares, aquietar a alma, repensar a vida. As coisas na casa de sempre, na cidade de sempre não andavam bem.

Como é que alguém se recupera de uma perda como essa? Eu não faço a menor idéia.

Uma amiga muito querida diz que se deve lembrar do prêmio, daquilo que fica de bom quando a dor passa, daquilo que faz tudo valer a pena. Pode ser.

Conversando a gente conhece dores nesse mundo, viu. Que dores... Dores que fazem as nossas parecerem tão pequenininhas. E conhece também os prêmios.

Existem lágrimas de dores e lágrimas de prêmios. Às vezes elas se misturam...

As lágrimas dela eram desse tipo, confusas, inconformadas, doídas e cheias de prêmio.

Eu dizia que tudo iria passar. Afinal tudo passa, certo?

Menos os prêmios, esses ficam. Ficam e voltam com o tempo, sem as lágrimas, sempre que a gente quiser.

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