Uma rua à meia luz. Um carrinho de catar sucata cheio de madeiras, papéis, sucata. Uma criança por perto, quieta, monocromática como a sucata, o carrinho e a rua. De destoante só o rosa de um cordão de balões de aniversário que passava pelo topo do carrinho e terminava nas mãos da criança, vidrada na leveza dos balões.
Uma cena em P&B focalizado ali pronta, inteira na minha frente praticamente gritando para que eu apertasse o botão e não deixasse ela ir embora de vez.
Para o meu desespero resolvi sair sem a câmera naquela noite e a foto só existe na minha cabeça. E como existe. Não vai embora a danada, vive voltando, indo e vindo, tudo culpa dos olhinhos daquela criança monotom espelhando o rosa dos balões. Um lampejo de infância que merecia continuar existindo em outro lugar que não só o meu interior e o dela.
Aquele momento merecia ser uma foto. Aquele momento era uma foto. Linda. Praticamente minha obrigação.
Pena.
Tenho tantas dessas fotos aqui comigo. Péssima essa mania de sair sem a câmera, qualquer câmera que seja. Vou virando esse álbum, esse slideshow de imagens que foram e que eu vejo e revelo em mim, para mim e só. Como eu queria mostrar...
Talvez por isso Cartier-Bresson, um dos maiores de todos os tempos, tenha aposentado sua Leica no fim da vida e se dedicado à pintura.
Se eu não fosse tão ridiculamente sem jeitinho para desenhar, esse caminho seria um alívio e uma forma ótima de revelar todas as fotos que eu não tirei.
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Um comentário:
Que triste Ju.... Mas acho que consegui imaginar um pouco dela por suas palavras...
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