sábado, 5 de abril de 2008

Gostinho de Ontem

Não sei por que cargas d’água tenho andado em uma fase de desenterrar memórias gastronômicas da minha infância. Há muito tempo não comprava Sucrilhos, gelatina, mussarela de bolinha. Pois é, em minhas últimas idas ao supermercado esses itens, por algum motivo obscuro, acharam seu caminho de volta para as minhas sacolas.

Bem, na verdade não se trata de um caminho de volta, uma vez que eles nunca fizeram parte das minhas sacolas. Entravam com freqüência nas sacolas de papel pardo dos meus pais, depois de muitos pedidos melados, puxões de saias e carinhas de gato de botas (que naquela época não podiam ser chamadas assim pois o pessoal da DreamWorks sequer sonhava em desenhar o bichinho fofo com sotaque latino). Entre dezenas de chocolates, refrigerantes, Danetes e bolachas, em geral os sucrilhos, a gelatina e o queijo bolinha eram alguns dos sobreviventes mais freqüentes.

Outro dia passei por acaso pela prateleira de comidas para bebês e acabei levando (vou registrar aqui, mesmo sabendo que isso pode e será usado contra mim) papinhas de nenê. Sim, você leu certo. Coloquei no carrinho alguns pares daquelas papinhas Nestlé que vêm nos potinhos de vidro. A boa notícia é que agora as tampinhas abrem facilmente e existem potinhos maiores. Pensando bem, talvez eu não seja a única a ter a lombriga dos potinhos. Deve haver outros marmanjos comprando os potinhos grandes para comer assistindo House. Só pode ser.


A minha última aquisição foi uma pérola que não poderia faltar nessa coletânea: Cremogema. Outro dia estava brincando com o meu cachorro e comecei a cantar a musiquinha da “coisa mais gostosa desse mundo”. Na visita seguinte ao supermercado, voilá: mingau de pozinho no carrinho.

A melhor coisa de comer essas guloseimas é que, ao contrário de outras paixões infantis, elas continuam maravilhosas. Tente assistir ao seu seriado de infância favorito e perceba a sensação. Aquelas cenas fantásticas que para você pareciam dignas do Oscar e do Urso de Berlim, hoje em dia são mais ridículas que novela mexicana. O avião invisível da mulher maravilha que o diga...

O reencontro com as suas paixões gastronômicas infantis, ao contrário, não irá te desapontar. Impossível descrever a sensação boa que tive quando o Cremogema começou a ferver e a cozinha ficou preenchida com aquele cheirinho de tantos anos atrás. Foi o mesmo com a papinha de bebê. Só o cheiro que escapou quando abri o potinho já valeu a ida ao supermercado. Eu sei que parece ridículo, mas me senti imediatamente como me sentia quando, toquinho de gente, me sentava com os pezinhos balançando longe do chão e minha mãe me dava o potinho para comer enquanto alimentava a minha irmã.

Gostei tanto das sensações e de reencontrar esses velhos amigos que não pretendo parar por aí. Minha próxima viagem já está decidida e será de volta ao tempo da Farinha Láctea. Hummm, sempre gostei daquele mingau grossinho com gruminhos e de roubar umas colheradas do pó para comer puro e ficar com o céu da boca todo grudado. Talvez isso me custe algumas horas extras na academia. Fazer o quê? Como diriam na época da minha infância, mais vale um gosto...

Pensando bem, até que as minhas guloseimas de infância eram bastante saudáveis. Minha volta ao menu dos anos 80 não me fará nenhum mal, além da agregação de alguns prováveis quilinhos inesperados. Agora, cá entre nós, imagine o que uma criança de 2008 terá de comer se decidir fazer essa mesma experiência em 2028. Certamente Big Macs, batatas fritas e Cheetos. Apesar de que, em uma época com o cardápio provavelmente variando entre pílulas e espumas vermelhas, verdes e azuis, dois hambúrgueres, alface, queijo e molho especial até que não serão de todo mal.

5 comentários:

Anônimo disse...

Morro de vontade de sentir o gosto de algumas coisas que não existem mais: Azedinho Doce, chocolate Surpresa, Dip Lik, Fura-bolo, Gauaraná Brahma etc
De todas as épocas de nossas vidas, sem dúvida a infância é a que nos deixa mais saudosos.

Eduardo disse...

Ju,

mais gostoso do que relembrar a infância, é provar novos gostos e sentir-se novamente, criança!

Beijos

Anônimo disse...

Ju, querida!

Achei teu blog. Lindo. Como você! Virei fã e agora não saio daqui.

Dani

Menininha bossa-nova disse...

Nem me vem com Cremogema qdo eu for na tua casa, heim??? No máximo, um Mandiopan, hummm, q esse eu adoraria...

Mineirim morando no Rio disse...

Lendo este post em junho de 2018!
Meus últimos dias foram muito ruins, estava irritado e sem falar a 7 dias com a minha família que tanto amo. Ao ler o seu texto (e/ou talvez porque mais cedo fui a uma igreja e rezei pedindo ajuda ao espírito santo), eu ri. Me acalmei. Desanuviei, como dizem. E fiz as pazes com meus pais. Seu bom humor e referências da infância parecem que salvaram o meu dia e minha semana.
Obs.1: cheguei aqui pesquisando no Google por mandiopan grudado céu da boca (foi o que aconteceu comigo a pouco ao jantar a "iguaria" como parte de uma das entradas de um restaurante tailandês!
Obs.2: será que em 2028 alguma criança de 2008 comenta aqui de novo?
Obs.3: também sou descendente de sírios
Obs.4: eu nunca tinha feito comentário em nenhum blog/post. Pra vc ver como gostei.