sábado, 12 de dezembro de 2009

Isso é São Paulo...

Ele chegou como um cara qualquer, exceto pela arma na mão.

- Olha só, todo mundo calmo por aqui. Isso é um assalto, passa já as carteiras.

Demora um certo tempo até a ficha cair, ainda mais com o cara falando calmo daquele jeito. Eu olhava para o revólver, para a cara do moço, para as pessoas na mesa e para as bolsas e celulares. Caraca, já era. O cara vai levar tudo, pensei.

Pegou o dinheiro que achou e ia levando uma carteira mas resolveu devolver, tinha documento e coisa demais ali. O ladrão estava de boa.

Foi então que apareceu o ignorante pelo meu lado esquerdo. Um mano bem mano, mochila na frente do corpo, boné, arma na mão. Foi chegando e pegando os celulares em cima da mesa. Eu via ele pegar os aparelhos e pensava em tudo o que estava ali dentro que eu iria perder, pastinha por pastinha, docs, senhas, contatos, memos, músicas, fotos, tudo para os caras trocarem por vinte mangos na primeira boca da esquina. Maldito mano. Não pensei duas vezes, na verdade não pensei vez nenhuma:

- Ai moço, não leva os celulares por favor, tá tudo aí, coisa de trabalho...

Ele olhou para mim espumando. Levantou a arma e veio para o meu lado com a coisa apontada, aquela sensação meio de câmera lenta sabe? Estranho demais. Eu só pensava que ia levar um tiro ali mesmo, na calçada do bar, por causa de uma porcaria de celular. Eu e a minha boca grande.

Ele chegou bem perto, levantou a arma e me bateu na cabeça com o cabo. Não foi forte, uma pancada só, acho que ele quis mais assustar do que machucar. Sorte. Aquele cara, bolado do jeito que estava, poderia ter feito qualquer coisa. Na verdade para ele me dar um tiro ou me bater na cabeça acho que daria no mesmo. O cara tava maluco.

- Calma moço, não bate nela. Disse o Biel do meu lado (obrigada querido!), o que fez ele sair de perto, guardar os celulares na mochila e ir correndo para a moto.

O outro cara fez a rapa nas outras mesas e saiu andando de boa, com direito a frase de efeito:
- Desculpa aí meu povo, mas vocês têm o que fazer e nós não. Isso é São Paulo.

Depois que eles saíram a gente ficou ali, parado, se olhando meio sem saber o que dizer ou fazer. Caraca, como a minha mão tremia...

É, minha gente, isso é São Paulo e todo o resto desse país à beira de um ataque de nervos. Eu só quero ver onde isso vai parar, acontece na Roosevelt, na rua, no buteco perto de casa. Não existe mais lugar seguro, nenhum, e depois de passar por uma coisa assim a gente tem a noção real da nossa completa vulnerabilidade.

Não adianta, a encrenca pode rolar em qualquer situação, a qualquer hora, onde quer que seja, e ficar trancado em casa não é vida, então o jeito é curtir e torcer para não estar no lugar errado na hora errada. Agora, cá entre nós, deixa levar o que quiser. Deixa, passa. Tentar argumentar com o ladrão chapado não é uma opção inteligente e promovedora de sobrevivência. A anta aqui tentou e quase não sobrou para contra a história.

Talvez por essa sensação de não saber o que vem por aí a gente tenha se jogado tanto na balada depois. Ou talvez tenha sido a vodka com energético misturada com tequila, mesmo... Vai saber. Fato é que a noite de aventuras acabou em uma das melhores baladas dos últimos tempos. Exorcizamos. Duro foi acordar com ressaquinha misturada com dor de galo na cabeça. Eita.

4 comentários:

Joao Paulo Garcia Leal disse...

Por isso que eu digo: faça sempre um backup do seu celular.

Ju, pelo que entendi, aconteceu mesmo. Fico contente que tenha acabado bem. Juízo.

Carô disse...

Juju querida, feliz por você estar bem, triste com esse mundinho besta...
Beijos

Menininha bossa-nova disse...

Agora conta do morcego.
:p

Gi disse...

sem comentários.