A mulher estirada na rua. A flor violeta, há pouco apanhada, contrastava com o escuro do asfalto e fazia com o vermelho uma estranha composição. A criança soluçava e tremia na calçada, os olhos vidrados na flor.
A flor que era para ela. Tão bonita aquela flor. Tão linda que atraiu dois pares de olhos e um sorriso largo da boca menor. “Olha mamãe, a flor parece você”. Os olhos de mãe brilharam e um sorriso se virou para os olhos pequenos, brilhantes, e lá permaneceu quando trilhava o caminho da flor. E cresceu, contrastando o seu branco com o violeta no caminho de volta, interrompido.
Olhos de mãe não enxergaram e pararam de brilhar. Opacos, virados para a flor.
Olhos de criança enxergaram tudo e, opacos que se tornaram, brilhariam somente quando molhados, muitas vezes depois.
A mãe não mais seria. Ela morreria tantas vezes quantas os opacos olhos de criança vissem flores, violeta, carro, vermelho, asfalto, sorrisos de mãe.
A criança jamais seria o que teria sido se não fosse a flor.
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Um comentário:
Que dor!
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