segunda-feira, 1 de setembro de 2008

D

As coisas que você me disse me deixaram tonta, enjoada. A nossa conversa naquela segunda-feira à noite me jogou no liquidificador e pela primeira vez eu te vi mulher.

O teu rosto não era mais o da menina que eu sempre conheci. Você, sonhadora, inocente, despreocupada, foi engolida pelo hoje e assim, em um estalo, desapareceu. E que susto eu levei...

Você transbordava as suas angústias, os seus temores adultos. Olhava para mim com olhos sem mais nenhum traço da infância que sempre te filtrou e protegeu as retinas e as minhas fichas despencaram todas juntas, fazendo um barulho ensurdecedor. Por fora eu só te olhava e ouvia, imóvel. Por dentro eu estava aos berros, transtornada por ter te deixado partir. Eu me reconhecia nos seus lamentos e queria te resgatar e te trazer de volta para um lugar seguro, aconchegante e confortável.

Se ao menos eu estivesse lá...

A gente sempre se deu tão bem. Tão diferentes, diametralmente opostas, e mesmo assim a gente sempre se entendeu pelo olhar. E se completou, e passou por cima da discussão de ontem para dar risada de alguma besteira dita sem pensar, lançada no ar. O tal amor incondicional. A tal convivência livre, despreocupada, limpa de camadas e travas e preparos. Nós somos assim, meu bem, melhores juntas. Nós nos fazemos bem.

E por mais que os desatinos dessa vida tenham nos roubado a convivência nesses tempos que passaram, eu vou estar sempre aqui para você e eu preciso que você exista quando os outros se forem. Tudo vai mudar, sarar, você vai ver. Aquele frescor vai ser seu de novo, minha menina irmã. Eu vou te mostrar.

4 comentários:

Tatiana disse...

eu, nesse sobe e desce, leio isso e fico com o queixinho trêmulo...achando tudo tão lindo, tão fraterno...
tão..tão..tão irmã!

Candice disse...

Lindo Ju...
Esse tal amor incondicional é capaz de entender, dar colo e de gritar de vez em quando... faz parte do pacote irmãos! Tô tão carente dos meus, até mesmo das brigas sem fim rs...
bjos e saudades

Maíra Colombrini disse...

Ai. Quase chorei... minha irmã tem me deixado gritando inside pelo menos uma vez por semana. Meu baby cresceu... imagina quando eu virar mãe!!!
Sabe o que é pior? É no meu caso esse sentimento não é um ciuminho... é puro egoismo, penso "se ela já está fazendo isso, é pq eu estou velha".

Beijos!

Maíra Colombrini disse...

Ju... eu vou mandar, mas preciso escanear primeiro. Era 2001, a máquina era analógica ainda :o)
Ficarei meio encalhada em casa uns dias. Obrigando a minha mãe repolso pós cirurgico que ela não quer obedecer. Mas marque (com uns dias de atecedencia pra eu me arrumar) que eu vou.

Beijos!