Estava no meu passeio matinal com o pequeno quando vi, do outro lado da rua, uma família inteira a correr pela outra calçada. Pai, mãe, filho adolescente e duas menininhas saíram em disparada. Sumiram.
Que pressa é essa? Pensei. Plena quarta-feira de manhã e o povo nesse agito? OK, algo acontece. Abstraí e continuei a minha caminhada de poste em poste quando, lá pelas tantas, reapareceu a tal família, agora em dois blocos, carregando um sofá. Sim, um sofá. Enorme, azul, três ou quatro rasgos consideráveis.
Os pais e o filho levavam, com muito esforço, a base. As filhinhas, atrás, se matavam para carregar o que parecia ser o encosto. Elas eram realmente crianças, uns 6 e 8 anos talvez, piquitas mesmo. Judiação. Três passinhos, pararam, a mais velha fez um gesto para a pequena se afastar, tentou levantar sozinha o encosto, dois passinhos, chão de novo. OK, juntas, mais três passinhos e assim foram.
Eu estava atravessando a rua para ajudar quando o filho mais velho voltou, colocou o pedaço de móvel nas costas e saiu, seguido pelas piquitas. Entrou em uma casinha simples, bem simples, espremida em uma tripa de terreno que fica entre o meu prédio e uma loja de postes que ainda não abriu.
Parei e fiquei só observando a movimentação. Entraram com o sofá, o filho entrou com o encosto, as filhinhas fecharam o portão e saíram correndo pelo jardim, a menor saltando nas costas da outra que ria alto, gostoso. Pulavam de alegria, sumiram dentro da casa. Sorri um riso triste, meio engasgado, e segui o passeio matutando sobre as diferenças de valor atribuído às coisas pelas pessoas. Aquele sofá, que provavelmente foi jogado fora por alguém, fará definitivamente muita diferença por ali.
Um comentário:
É uma questão de se abrir pra vida e se colocar no seu lugar.
Sem piada, juro. Tô falando sério.
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