quarta-feira, 2 de julho de 2008

Vista

A minha vista muda tudo. Faz as coisas boas, melhores, as ruins, menores.

A minha vista é um grande amplificador do meu peito. O que eu sinto ressoa por ela e volta digerido, diferente.

Ela me dá parâmetros, bases de comparação, trazendo os meus sentimentos para os seus devidos lugares. A minha vista é um grande conversor, uma constante que me invade e me coloca novamente no chão.

Daqui do alto sou inacreditavelmente pequena, insignificante e ao mesmo tempo grande, gigantesca. Daqui do alto vejo tudo com uma clareza única ao passo que não vejo o detalhe de nada.

Quando estou emotiva, emociona; triste, consola; sem idéias, inspira; só, acompanha; com raiva, acalma; sem sono, embala; sem norte, guia; sem brilho, ilumina; sem mim, resgata.

A minha vista é ainda mais minha no meio da madrugada, 4 horas da manhã de qualquer quarta-feira. A rua é deserta, não há carros, barulhos, pessoas, os cães dormem, a vida dorme, os postes alaranjados iluminam o vazio. O mundo é então, meu. Como em um filme surreal, eu sou a única a vê-lo, meus pensamentos são tudo que há. E então me renovo, volto à forma, encontro a alma.

A minha vista é o meu maior tesouro que não respira.

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