A mulher olhava a criança e eu olhava a mulher.
Fiquei minutos-horas ali, olhando aquela senhora nos seus 60 e muitos a observar a criança desconhecida sem quase piscar.
O que será que se passava por trás daqueles olhos?
Eu olhava e pensava: O que você fez da sua vida, mulher? Agora que o tempo passou, que a maior parte se foi, que as escolhas estão quase todas feitas, os caminhos traçados, trilhados (ou não), qual o saldo do trajeto? O que mostraria a sua retrospectiva? Seria curta, sem sustos, sem apnéias, sem entregas, sem saltos de olhos vendados? Seria insossa? Seria muito menos do que deveria ser?
Ou seria linda?
Quereria ela retornar à criança para reescrever a tal retrospectiva?
Acho mesmo que não.
Ela tinha os olhos serenos, a criança lhe penetrava as retinas e lhe abria portas escondidas. Imagens. Boas, eu diria, pela doçura daqueles olhos. Ela tinha a tranqüilidade das chances aproveitadas e dos riscos corridos.
Acho mesmo que aqueles cabelos prateados viveram muita coisa deliciosa, outras nem tanto, mas que escreveram uma história digna de vista e revista por olhos serenos de uma vida muito bem vivida.
E no meio do caminho entre criança e senhora, me imaginei ali, ela.
Que serenos e doces os meus olhos também possam ser.
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Um comentário:
Ju, que texto bonito! Espero também por olhos serenos e doces como os dela. Na verdade essa é minha busca...
Bjos, Le.
Ah, outro dia coloquei uma indicação ao seu blog no meu. O que escrevi ali foi do coração. Se vc ainda não viu de um pulo lá. Ai vai o link: www.animalartificial.com/2009/06/pessoal-voltei.html
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