quinta-feira, 6 de março de 2008

Extra-ordinário

É incrível como um pequeno detalhe, um acontecimento minúsculo pode dar cor a um dia aparentemente comum, ordinário. Nada me lembraria o dia de hoje se não fosse pela ação sui generis de uma desconhecida no mais inesperado dos lugares.

Pois bem. Estava eu na fila do caixa de uma grande rede varejista norte-americana, aguardando a minha vez de contribuir para o recheio dos cofres do estabelecimento. Passei meus produtos que foram, um a um, devidamente registrados pela atendente.

“Forma de pagamento? Cartão, por favor. Pois não.” Muitos plecs de impressora depois, eis que surge a fita de cobrança que comprovaria a minha indubitável presença naquele momento de troca mercantil.

Ela: “Aqui está. Assine, por favor.” E então, sem titubear, sem pensar sequer meia vez, como se fosse a coisa mais normal e corriqueira do mundo, ela puxou faceiramente e sem a menor cerimônia uma Bic preta que estava, vejam só, no seu coque gigantesco. Sem nada dizer, me estendeu a mão com o objeto que naquele exato momento, eu torcia para não estar inteiramente repleto de sebo capilar... Tomei-o de sua mão, na maior normalidade aparente do mundo, e rabisquei rapidamente alguns traços no papel, que o banco, obviamente, nunca chegará a considerar.

Por dentro eu era só gargalhadas. Um sorriso me escapou assim que saí da loja, e foi crescendo, ganhando corpo, e me acompanhou até em casa, onde cheguei, lavei as mãos, e, ainda rindo, comecei a escrever.

Ah, as diferenças! E que graça teriam nossos dias se, o que para mim parece impensável, não fosse tão normal para outros? Muito mais prazerosa a vida dessa forma, pois somente tais particularidades possibilitam que abramos os olhos diariamente e pensemos: que surpresas, sebosas ou não, o dia me reservará?

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