quarta-feira, 5 de março de 2008

O Retorno

Há muito que não escrevo nada...

Nada que realmente possa ser considerado “escrever”.

Coloco coisas no papel, é verdade. Listas, lembretes, números... E só, porque parece que não sabemos mais escrever coisas à moda antiga. Agora tudo vira multimídia e nossos dedos se acostumaram a martelar teclinhas muito mais rápido do que nossos punhos podem rebolar para girar as esferas com tinta.

Por isso mesmo, no computador registro coisas um pouco mais elaboradas. Digito mensagens, scraps, planilhas, cartas, faxes, e mais listas, lembretes, números...

E só. O muito do dia-a-dia preencheu de tal forma o tempo que nada mais significativo, prazeroso ou reflexivo achou seu caminho para fora de mim.

Há anos que não escrevo nada. É uma pena, pois escrever costumava me fazer muito bem. Terapia grátis, profunda, por vezes dolorida, mas sempre muito eficaz.

É incrível como nos esquecemos do bem que uma boa conversa com nossos botões pode nos fazer. Absortos em nossa teia de afazeres rotineiros e de emergências sem importância, deixamos de nos perguntar as questões que realmente podem fazer alguma diferença em nossas jornadas. Deixamos de refletir, de criar. Limitamo-nos a resolver, a apagar incêndios, até que um belo dia nos damos conta de que há muito que não escrevemos nada...

Decidi, hoje, mudar essa dinâmica. Espero que o muito do dia-a-dia não me tome de pronto essa resolução. Espero que as questões não resolvidas dentro de mim falem alto o suficiente para que eu as ouça, as considere, pondere, cuspa reflexões e não me contente em ser menos do que eu espero de mim.

Espero escrever muito, pois uma palavra escrita traz consigo milhares de pensamentos prévios vasculhados, combinados e organizados em forma de caracteres ocidentais, que assim poderão ser vasculhados, combinados, organizados e complementados por outrem.


Escrever, e o pensar que o acompanha, valoriza o humano, o pulsante, o insatisfeito e o curioso em mim, e faz do outro, aliado na busca sem fim pelo entendimento do impossível.

Um comentário:

Leandro Souza disse...

Ju, mais um texto que leio, mais um texto que gosto! Cada vez mais me aconchego aqui no seu cantinho.