terça-feira, 15 de julho de 2008

Basquete

Eu só queria jogar basquete. Falamos de ir ao bar, de carteado, de filmes alternativos... Eu só queria a bola, o aro, meus tênis e um refletor aceso. Fui.

Peguei a bola no fundo do armário, vesti a fantasia de atleta e parti rumo à quadra mais próxima. Eram oito da noite e eu sabia que não haveria ninguém com quem jogar, não me importava. Eu e a bola seríamos suficientes.

Seis caras treinavam na quadra 1, a única iluminada, me restando a quadra central à meia luz. Fazer o quê? Eu tinha mesmo um carinho especial por aquela quadra.

Comecei a bater a bola, a me acostumar novamente com o seu peso, antes tão familiar, procurei a linha de lance livre e fiz umas firulas meio toscas pela falta de prática. Olhei para o aro e uma série de lembranças vieram me fazer companhia. Eu sorria sem perceber.

Aquela quadra havia sido o palco de um dos meus melhores momentos da faculdade. Primeiro ano, final das Calouríadas. Nunca o Instituto de Economia havia chegado a uma final do basquete feminino. Estávamos lá. Adversário: Educação Física. O entorno da quadra estava lotado, os veteranos adoraram a ida inesperada à final e foram em peso prestigiar, torcer, beber e provocar o povo da FEF. O dia era de festa.

Elas eram as favoritas absolutas, tinham um time completo com reservas, conheciam as regras, jogavam mesmo. Elas eram da FEF, caramba. Nós, por outro lado, estudávamos curvas, gráficos e comportamento maximizador e ainda por cima, éramos um time de dois, duas. Duas Julianas, uma Hilal, outra Bruns. E só. Não tínhamos reservas e o resto do time fazia número para não perdermos por WO. Ninguém, nem a minha mãe, botava uma fé na gente. Até o jogo começar.

Modéstia à parte, arrasamos no dois contra cinco. Jogamos como loucas a ponto de equilibrarmos a partida até o último quarto. A torcida se acumulava e gritava, a Unicamp parou naquele momento para ver o resultado do jogo. OK, talvez eu esteja exagerando um pouco mas é assim que eu me lembro daquele final. E que final.

Último quarto, três segundos para o fim da partida, a FEF ganhava por dois pontos, posse de bola nossa. Recebi a bola na linha dos três pontos, lateral direita, marcada... Arremessei. O apito do juiz ressoou assim que a bola saiu das minhas mãos. Ela subiu e desceu em câmera lenta, a torcida congelou, silêncio... A bola caiu de chuá e ouvimos o barulho da rede balançando. A torcida ensandecida começou gritar e a invadir a quadra. Eu fui abraçada por mais pessoas do que consigo me lembrar, fui levantada, jogada para cima, eu virei uma popstar.

No instituto naquela tarde, naquela semana, só se falava daquilo. Eu virei a bixete mais conhecida da Economia. Professores doutores me cumprimentavam, os veteranos gritavam o meu nome, ganhei presentes na cantina. Que dia.

Seguimos, eu e Ju, defendendo a Economia pelos quatro anos seguintes. Fomos a quatro finais de Intercursos, uma contra a FEF, três contra nossas arquiinimigas da Medicina. Perdemos todas, mas não fizemos feio, afinal éramos sempre duas contra cinco e só isso já valia a peleja. Bons tempos. Saudosos. Na seleção da Unicamp nós e todas as nossas arquiinimigas nos reuníamos para enfrentar outras cidades, outras arquiinimigas. Que time. Mas isso já é outra história...

Me bateu mesmo uma saudade boa enquanto eu estava lá, arremessando sozinha às nove horas da noite de uma terça-feira qualquer, no mesmo lugar onde tanto já havia acontecido. Voltei para casa leve, renovada e até um pouco dolorida (um bônus). Preciso visitar mais vezes aquele lugar, as energias são boas, de um tempo onde tudo era simples e os sonhos eram muitos, possíveis. Preciso encontrar mais vezes aquela Juliana e não pensar em nada que não envolva um aro, uma rede e uma bola viajando pelo ar.

4 comentários:

Menininha bossa-nova disse...

Cada louco com a sua mania, né? Eu lembro desse dia. Acho que acabei dormindo, hehehe...

Anônimo disse...

Mundo pequeno esse. Juliana Bruns é ex Drama Club, querida e adorada, como você, por todos.

Não jogo nada de basquete, mas lavei a alma, num certo jogo de futebol de salão nas calouríadas (coincidentemente, contra a Economia).

Saudade da porra de meus tempos de Unicamp.

Tatiana disse...

Eu também tenho saudades da época do voley. Fui seleção baiana. Perdi pra caralho! hahahhah
Mas como eu me diverti!
Num campeonato entramos em demanda com as meninas de Pernambuco que são rivais antigas. Aquele climão no refeitório, essas coisas.Eu era caloura em campeonatos brasileiros e tinha que pagar algum mico.
Me designaram pra me enrolar em um lençol, colocar um turbante na cabeça, pegar o resto da galinha assada do almoço e fingir, junto com as outras calouras e uma veterana pra lá de escrota, e encenar uma macumba na porta do quarto das atletas pernambucanas.
Foi tão convincente que até eu acreditei na macumba...ri muito, muito mesmo.
Mas não foi suficiente para ganharmos delas. Descemos para terceira divisão.
Mas valeu a pena.
Sinto saudades imensas daquela época...
Te entendo. Perfeitamente.

Ju Hilal disse...
Este comentário foi removido pelo autor.